domingo, 27 de outubro de 2013

A Jornada é o destino


A Fotógrafa Renata Aguiar Rodrigues, num texto primoroso que lembra os grandes viajantes do mundo, como Marco Polo, vivencia e repassa ao mundo as mesmas impressões daqueles, experiências fantásticas, para eles, tão surrealistas que poucos foram capazes de entendê-las como grandeza da natureza em uma realidade que proclama a diversidade cultural, como se o DNA dos seres humanos fosse uma construção artística. Mesmo suspeito para comentar, fiquei chocado com a densidade que essas imagens comportam e me coloquei diante delas com o olhar pasmo da artista. Fiquei também angustiado, mas feliz; fiquei ansioso, mas tranquilo; uma ternura me envolveu por ter alguém tão próximo olhando assim para um mesmo mundo que o nosso, mas também tão diferente, belo e emocionante. 
E agora leiam com bastante atenção:

"A jornada é o destino" é uma obra fotográfica composta por 16 retratos de pessoas que encontrei no decorrer dos dois meses que tenho vivido na Índia. O olhar destes desconhecidos entra em choque com o olhar estrangeiro (o meu olhar, sempre tão nativo, aqui se tornou o olhar do outro), confrontando-o ou conformando-o. 

Como fotografa vim para a Índia em busca. Como muitos artistas ocidentais no passado e hoje que se aventuraram ao desconhecido e misterioso oriente (fetichistas orientalistas que se renovam), vim eu também para esse destino imaginário, porem confrontada com a realidade, me dei conta que esse destino que buscava encontrar está posto no caminho, sempre no caminho... 


Na jornada pelos Himalaias, indo de um vale a outro, passando pelo topo do mundo, encontrei pessoas, construí retratos e guardei imagens que agora são parte de mim.  Me surpreendi com os quebradores de pedras, um oficio que pensei, estava morto. Assim a primeira vista, olhei para esses homens e mulheres como fantasmas de um passado que não pude nem datar. Ido o primeiro impacto, me pus a pensar na vida que levam essas pessoas que quebram pedras construindo estradas pelo Himalaia, uma lugar árido, frio, muito frio. O olhar dessa gente me intriga, me perturba e agora me acompanha. 


Descobri, que a maioria deles, vive ali mesmo, nas redondezas, foi o que me disseram... Mas onde? Não existem vilas por pelo menos 6 horas de carro dali, vi alguns acampamentos, tendas! Um sentimento de solidão me invadiu. Como o mundo é imenso, como o ser humano é  pequeno e desamparado e enfim, como a beleza é capaz de permear a melancolia, principalmente aos olhos de quem a vê de fora, confortavelmente sentado num carro... como pode o artista ser responsável? como pode o fotografo não ser um usurpador de imagens? A arte não faz do mundo um lugar melhor, nem tão pouco "[...] reproduz o que vemos. Ela nos faz ver." (Paul Klee) o que sem ela seria invisível.

Tendo, então, o invisível como ponto de conversão, tive o privilegio de conhecer uma comunidade de muito pouca visibilidade, da qual, aliais, nunca ouvira falar; encravada no vale Dhahanu no distrito de Ladakh no estado Jammur e Caxemira  próxima a fronteira da Índia com o Paquistão. Vivem, ainda de forma muito tradicional, um povo que se intitula ariano e é conhecido como Brokpa, tendo uma aparência indo-europeia, em contraste com a predominância étnica tibeto-mongol da região. Ainda no caminho, no ônibus, pude ver algumas pessoas, homens e mulheres, com ornamentos e flores na cabeça... o cobrador da condução me avisou, esse é o povo Brokpa de Dha.

O caminho para chegar ao vale é longo, cerca de 8 horas, mas as paisagens são de tirar o folego. Em ônibus local (péssimas condições, super lotado de pessoas e artigos os mais diversos) serpenteamos, chacoalhando por um caminho ladeado por paredões intransponíveis e abismos escavados por eras de degelo do Himalaia, as paisagens mais arrebatadoras que já vi, um sentimento de angustia e liberdade.

No entanto, chegando a vila Dha, tudo se tornou, de repente, morno, pequeno e aconchegante: um útero! O lugar em si muito fértil, verde, ladeado pelas incríveis montanhas tendo acima o céu mais azul. 




Meu único pesar, é saber que essa cultura esta fadada a desaparecer, os jovens da vila, já não usam mais os ornamentos tradicionais, e nem mesmo nos festivais preservam as danças. Lá ouvi do dono da única pousada, que ele acredita que a cultura tradicional do vale está morrendo, principalmente por conta das estradas que dão acesso a vila e portanto a educação formal (o que para os mais tradicionais, está desvirtuando os valores de sua cultura) e da forte presença do exercito na região, que é foco histórico de atritos com o vizinho Paquistão, onde também vive uma parte do povo Brokpa.  

Essa gente vive num isolamento que nunca tinha visto antes, sem luz elétrica, sem gás, criam seus animais e plantam o que comem. O que sobra da produção de vegetais, vendem para o exercito. Na vila percebi a ausência dos homens jovens, haviam apenas crianças, mulheres de todas as idades e idosos. A enfermeira residente na vila me contou que a maioria dos homens sai para procurar emprego em Leh, capital do estado e outros muitos vão para o exercito, mas não sem antes casar e deixar pelo menos um bom punhado de herdeiros (se assemelhando a tantos outros lugares do mundo em que as cidades grandes atraem retirantes).




Em Deli todos os dias indo trabalhar passo pelo vendedor de maças, uma vez ele me pediu uma foto, a razão, pelo que pude entender, era apenas para ver sua imagem na câmera.  Uma atitude muito comum aqui na Índia, no meu entendimento, ser fotografado, especialmente por um estrangeiro revela uma vontade de reconhecimento e de fuga e ainda (pasmem) fascínio. Reconhecimento como digno de um retrato, da atenção daquele que olha; o olhar aqui que é fonte de poder, não o poder disciplinador do olhar Foucaultiano,  mas o poder de criação, como se esse olhar lhe outorgasse a existência. 

Fato compreensível considerando-se que a Índia é um dos países mais populosos do mundo e onde um sistema de castas, que difere os cidadãos no berço, ainda é forte, embora esteja coberto por uma névoa para aqueles que não falam a língua local, como eu; ainda assim posso sentir essa diferenciação que é altamente naturalizada na sociedade indiana e que vai se somar, as nossas já familiares diferenciações de classes sociais criadas pelo capitalismo de uma emergente semiperiferia.

 









domingo, 15 de setembro de 2013

Aborto induzido, uma opção pela morte.

    No dia 15 de setembro de 2013 em Belém, foi realizada a I Marcha Paraense da Cidadania pela Vida apoiando o movimento nacional, Brasil sem Aborto.
     “Aborto é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção. É a morte do ovo (até três semanas de gestação), embrião (de três semanas a três meses) ou feto (após três meses), não implicando necessariamente sua expulsão. O produto da concepção pode ser dissolvido, reabsorvido pelo organismo da mulher ou até mumificado, ou pode a gestante morrer antes da expulsão.           Não deixará de haver, no caso, o aborto.” (Júlio Fabrini Mirabete, Manual de Direito Penal, 5. ed., p. 73).
    Para embasar quem quer saber a respeito da legislação sobre o aborto, vejam algumas leis:
Constituição Federal Brasileira
Art. 5º - “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.”
Código Civil Brasileiro
Art. 2º- A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. (Theotônio Negrão e José Roberto Ferreira Gouvêa, Código Civil e legislação civil em vigor, 22.ed., p. 39).
Código Penal Brasileiro
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem Iho provoque: Pena - detenção de 1 (um) a 3 (três) anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Aborto necessário: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.” (Código Penal Brasileiro).

    Encontrei na internet muitas opiniões sobre o aborto, mas fiquei muito impressionado com as opiniões e posicionamentos do jornalista e advogado Cleber Benvegnú do blog Senso Incomum, do qual extrai algumas das informações a seguir.
    “Os pró-aborto certamente não pretendem ver com seus próprios olhos o ato que dizem legítimo: o efeito das drogas queimando as entranhas de um menino ou de uma menina em formação, um ser destruído por remédio ou bisturi. É apelação entrar nesses detalhes? Ora, mas é isso mesmo que acontece: pessoas crescidas, adultas e com barba na cara decidem sobre outra – pequena e indefesa – que caminha para nascer. E, sob a alegação de uma potencial infelicidade ou rejeição, já a querem morta desde logo.”
    “A legalização tiraria o aborto da clandestinidade – alegam. Morreriam menos fetos do que agora – acrescentam. Ora, mas que diploma de direito humano é este que pretende combater um mal com a legitimação de outro? Há clínicas clandestinas? Fechem-nas. A criança será rejeitada pelos pais? Deem-na a pais afetivos e agilizem as leis de adoção. Tudo menos rifar o feto. Fico cá me perguntando, independentemente das teorias sobre o início da vida: o que seria o feto senão vida humana? O quê? Um mero amontoado de carnes e cartilagens, cujo desenho se assemelha a nós? Ou apenas uma “vida em potencial”, mesmo tendo um DNA exclusivo em toda a natureza? O que os olhos não veem o coração não sente: essa é a nova lógica humanista que queremos legitimar?”
    Diante das pressões dos diversos movimentos pró e contra o aborto, o Conselho Nacional de Medicina, representando mais de 400.000 médicos no país, se posicionou sobre o assunto de forma muito indecisa, não ficou nem contra, nem a favor, muito pelo contrário, agiu de forma hipócrita, utilizando-se de sofismas, sem contar que enfrenta grande parte da ciência – a maior parte dela, a propósito –, segunda a qual o início da vida ocorre na concepção.
    Há também a suspeita de manipulação de dados pelos pró-aborto, visto que em 2012 o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, contestou informações divulgadas pela Organização das Nações Unidas segundo as quais 200 mil mulheres morrem anualmente no Brasil por causa de abortos de risco. Ele acredita que pode ter havido confusão com outro dado, já que cerca de 200 mil mulheres se submetem a curetagens por ano no Brasil, procedimento muito utilizado após o processo abortivo.
    Em função desses dados distorcidos a ONU cobrou posição do governo brasileiro durante a 51ª sessão do Comitê Para a Eliminação de Discriminação Contra as Mulheres, que ocorreu em Genebra, quando a perita suíça Patrícia Schulz pediu esclarecimentos ao governo brasileiro, sem poupar críticas. "O que vocês vão fazer com esse problema politico enorme que têm"? Aí é de se perguntar, quem forneceu tais dados para a ONU?         Com que propósito? Com que interesses?
   Até aqui nenhum argumento religioso foi utilizado, mas porque não fazê-lo, visto que é legítimo que cristãos busquem influenciar nos debates sociais – ou deveriam silenciar em favor da ditadura ateia que muitos intentam criar?
    E no caso dos fetos anencéfalos, embora tenham sistema nervoso central incompleto sentem dor e reagem a estímulos. A Portaria nº 487/2007, do Ministério da Saúde, atesta isso. Ademais, há inúmeros relatos de fetos com má-formação cerebral que resistiram bem mais do que alguns segundos.
   Dados da última campanha presidencial, quando o assunto foi plenamente utilizado pelos candidatos com intenções eleitoreiras, atestam que uma mulher aborta a cada 33 segundos e a prática insegura mata uma brasileira a cada dois dias, sendo que um abortamento é feito para cada 3,5 nascidos vivos.
   De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), 183,6 mil atendimentos de mulheres que abortaram, sofreram complicações e precisaram passar por uma curetagem foram feitos em 2009. Segundo as estimativas dos médicos, para cada caso que acaba no hospital, outros quatro abortos foram feitos no mais absoluto silêncio. Só em 2009, 942.713 abortamentos induzidos foram realizados no país.
    Quem defende a descriminalização do aborto e alega que isso é de politica DE SAÚDE PUBLICA (como se gravidez fosse câncer), utiliza os números de 183 mil mulheres que sofrem complicações por abortos clandestinos por ano.
    Os números - eles novamente - indicam que para cada complicação, outros quatro abortos também são feitos.
    Vamos agora supor que não exista criminalização e que o Estado ainda pague pelos abortos por gravidez indesejada... Bem, está aí um número que eu não faço a menor ideia: o de mulheres que se sentirão mais estimuladas a praticarem o aborto.
    Ou seja, ao invés de orientação sexual adequada, distribuição de métodos contraceptivos leves e preventivos, de ACOLHIDA FAMILIAR, de condições socioeconômicas adequadas para criação de um filho, o mais fácil para os defensores do aborto é... matar.
   O certo é que o tema ainda levanta muitas dúvidas, e são dúvidas sobre a vida, mas na dúvida, sempre é melhor matar o feto indefeso, é o que se interpreta do movimento pró-aborto. Uma aberração condicionada pelo comodismo diante de problemática social que merece abordagem científica, ética e religiosa. Há uma visão eugênica no trato dessa questão que é preciso estancar pela força de um passado, quando homens insignificantes, mas com grande poder quiseram fazer o papel de deus, tentando selecionar as raças superiores e eliminar o que consideravam inferiores. Desrespeito total pela vida, carniceiros, mortos a maioria na forca do julgamento de crimes de guerra da II Guerra Mundial.
    Nem pena de morte, nem aborto pra ninguém, quem já nasceu agradeça a seus pais a decisão e a coragem de terem filhos, mas deixem os outros nascerem em paz, eles merecem, quero dizer, eles têm direitos.



Caboco Nirso

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Violência ou paz?

Com o advento dos movimentos de rua em todo o país, surge em vários canais de comunicação reflexões, artigos, pensamentos que levantam a questão da validade e da efetividade de conquistas sociais com o uso da violência. Existe o movimento Black Block, surgido em várias partes do mundo, que se autodenomina anarquista, onde normalmente jovens encapuzados enfrentam a polícia e as autoridades constituídas com coquetéis molotov, ateiam fogo em veículos, quebram vidraças, buscam pela pressão da violência uma resposta mais imediata para suas reinvindicações. Não podemos simplesmente rotulá-los de baderneiros, vândalos como a maioria da mídia faz, sem antes refletir sobre o que leva pessoas de costumes normais, até pacíficos no cotidiano, a decidir pela agressão material do patrimônio publico. Primeiro é importante verificar que, à semelhança de um animal ferido, o ser humano, que também tem seus instintos animais, pode agir de forma violenta quando se vê acuado. Trata-se no caso das inúmeras injustiças sociais de representantes do povo que se comportam como verdadeiros déspotas, arbitrários, abusando sobremaneira da autoridade, concedida a eles pela lei, para cuidar com carinho e idoneidade da coisa pública e principalmente dos cidadãos, sejam eles quem forem.
Se avaliada apenas emocionalmente, considerando um sistema político decepcionante e desmotivador, onde as urnas são o foco principal da ação dos corruptos e arrogantes políticos; a maioria dos recursos vindo do povo são indevidamente apropriados; o benefício sempre de uma minoria que foi colocada na função de representantes do povo com uma grande expectativa e até sonhos: Podemos ficar tão indignados e decepcionados que pode não restar nada a não ser uma revolta desconcertante que pode abalar toda a estrutura comportamental e ver a violência como única forma de exercer a cidadania e provocar as mudanças necessárias.
Esse debate precisa ser bem ampliado, pois a violência vem de todos os lados, e principalmente dos governantes, a corrupção é criminosa, rasteira, secreta, egocêntrica, mata de fome, fome de comida, de conhecimentos, de educação, mata de mentiras, de demagogia, distorce todos os valores da sociedade, e o pior, parece ser hereditária, não para de crescer, é uma violência incrível, infeliz, revoltante.
Mas, mas, e mas, não, não podemos cair nesse poço, a humanidade já cresceu, já fez muitas conquistas, com violência e sem violência, porém, todos os valores humanos nos levam para a busca da paz, o ser humano não se sente bem de forma violenta, a consciência lhe impõe naturalmente barreiras que vem do íntimo, das profundezas onde a paz alimenta nossa felicidade.
Sou daqueles que acreditam que estamos evoluindo, crescendo, que a maioria é feita de gente boa, honesta, que a natureza é do bem, que podemos fazer nossas conquistas pacificamente. Um personagem bem marcante que corrobora com a vitória da não violência é a figura absolutamente iluminada de Nelson Mandela, hoje já nos seus últimos momentos no planeta terra. Acho que não podemos imaginar o sofrimento da África do Sul com o Apartheid, onde a cor de uns fazia com que se sentissem superiores aos outros. Levou muito tempo e sofrimento, mas o grande herói à frente de um povo determinado chegou lá e foi a grandeza de espírito desse homem que fez com que todas as pessoas se unissem independente de cor, sendo o perdão um dos sentimentos essenciais para libertar o povo das mágoas de longos anos de violência.

A violência é um mal! Uma doença da humanidade ainda em processo de cura. Mas nem sempre é mau quem é violento! Ponto!

Caboco Nirso

domingo, 28 de julho de 2013

O mundo e eu

Passei o dia plantando, mas sempre que faço isso, e faço sempre, me vem na cabeça uma ideia muito intrigante e que me decepciona por antecipação: O que será das plantas que plantei? Quem se preocupará com elas? Os terrenos onde elas estão provavelmente virarão conjuntos habitacionais, queimadas para roça, pasto para gado, ou quem sabe, casa para moradia dos meus herdeiros. Triste fim para minhas plantas, que cultivo com tanto carinho. O que sobrou enfim, foi a terapia que fiz e me senti melhor comigo mesmo por estar fazendo algo que considero importante, em plenas férias.
A preocupação com as gerações futuras é uma utopia chamada de sustentabilidade. Há sempre quem esteja engajado em alguma causa ambiental, mas a maioria o faz apenas por modismo, pois não está disposto a fazer sacrifícios, renunciar ao consumismo, às ótimas tecnologias disponíveis. Há ONGs pra tudo que se possa imaginar, sérias e produtivas, pessoas valorosas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, leis excelentes de preservação ambiental, de responsabilidade social, leis de combate a violência de toda espécie, há a Declaração Universal dos Direitos Humanos, surgida após a carnificina da 2ª Guerra Mundial. Porque então o mundo ainda caminha de forma tão trôpega para atingir a paz e os ideais da sustentabilidade?
Não sei! Está difícil de saber, porém o desenvolvimento moral, a conscientização de cada cidadão do mundo para sua real importância como parte de uma humanidade só, com seres humanos partícipes do mesmo universo, será com certeza algo que irá fazer grande diferença. O egoísmo e o orgulho são pragas que nos remetem a criar grandes entraves e cometer pequenas e grandes barbaridades muitas vezes despercebidas, haja vista os maus hábitos já introjetados nas consciências e nos costumes. “Se dar bem” nesse paradigma é uma obrigação ensinada por pseudomestres, com mentes tão pervertidas como se fossem analfabetos morais, ensinando a corrupção por atos e palavras.
Mas, e aí? O mundo tem jeito?
O planeta terra vai sobreviver com certeza e a humanidade idem, digo isso por intuição, pois a razão me diz que não, as equações dizem que não, a ciência está desiludida.
Mas fico com meus sentimentos, pois estes eu levarei pra sempre comigo e em algum lugar do universo eles estarão ao meu lado para sentir de novo a esperança.
Caboco Nirso

sábado, 29 de junho de 2013

Eu quero a Copa e as Manifestações, e daí?


A música "Comida" dos Titãs deixa bem claro em certo trecho:
"A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer..."

Muito atual essa letra, pois vi em muitos cartazes nas manifestações, um extravazamento contra o futebol, contra a copa do mundo no Brasil, contra outros eventos importantes.
Vejo que temos que separar as questões, futebol, diversão, lazer, que fazem parte do anceio pela qualidade de vida e outras questões também relacionadas a esta idéia, tais como, saúde, educação, transporte, etc.
Parece até que gostar de futebol, querer ir aos estádios é coisa de alienados, de anti-cidadãos. Eu não aceito radicalismos nem de direita  e nem de esquerda, temos que ter equilíbrio e entender que os problemas morais, de corrupção, ética, homofobia que tem aparecido e despertado toda essa gama de revoltas justas são naturais e fruto do trabalho de conscientização que vem minando nas mentes jovens por uma geração que foi regida pela ditadura militar e agora observa seus filhos e netos com orgulho indo às ruas e podendo gritar seus direitos.
O Ronaldo Fenômeno, que foi extremamente criticado, falou uma coisa que eu concordo: Como seria o Brasil se não tivesse Copa, a saúde e educação estaria melhor? Porque cobrar dele, do Pelé e de outros desportistas essas questões que são atribuições de políticos, cuja responsabilidade sabemos não estão cumprindo? Ronaldo e Pelé foram artífices de muitas alegrias para o povo Brasileiro e são colocados no mesmo nível dos políticos. Não concordo. Vamos cobrar de quem deve e não incluir gente boa no meio da história só pra dar ibope.
Vamos buscar nossa melhoria de qualidade de vida, vamos pra rua, vamos para os estádios torcer, vamos gritar e resfolegar, mesmo sem jeito ainda, mas vamos, isso é cidadania e queremos ser felizes.


Caboco Nirso

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O aborto como questão de saúde pública

Posted by Décio on agosto 3, 2008
Em dezembro de 2005, foi publicado na BMC Medicine, uma revista indexada nos melhores bancos de dados do planeta e com um importante fator de impacto, um trabalho realizado pelos Departamentos de Ciências Comportamentais e Ciências Básicas em Medicina da Universidade de Oslo, Noruega, associados ao Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Buskerud em Drammen, também naquele país. O título do trabalho pode ser traduzido assim: “O curso da saúde mental após o aborto espontâneo e o aborto induzido: um estudo longitudinal de cinco anos”.
Antes de prosseguirmos analisando este importante estudo, é válido informar que o aborto até 12 semanas de gestação é permitido na Noruega desde 1978, um país com cerca de 4,6 milhões de habitantes e com o segundo maior índice de desenvolvimento humano (IDH) do planeta; não têm analfabetos e apresenta uma expectativa de vida para as norueguesas de 82 anos, uma das maiores do mundo.
A Noruega tem uma Igreja Estatal Protestante oficial, baseada na religião luterana evangélica. Apesar de não existir separação entre a Igreja e o Estado, todos os habitantes têm o direito de praticar a sua religião livremente de acordo com uma emenda à constituição datada de 1964. Nove em cada dez cidadãos de etnia norueguesa são membros da Igreja Estatal da Noruega, porém, apesar de a maioria dos indivíduos declararem que a religião é importante para eles, este fato não é, geralmente, expresso através de uma participação religiosa ativa em comunidades organizadas. Enquanto cerca de 88% da população pertence à Igreja da Noruega, apenas 10% freqüenta os serviços religiosos ou outras reuniões relacionadas com o Cristianismo mais do que uma vez por mês, portanto, podemos constatar que não há pressão social ou religiosa que condene as mulheres que praticam o aborto, realizado livremente como mostram os dados: Registram-se cerca de 15.000 abortos provocados contra 9.000 abortos espontâneos por ano na Noruega.
Os autores, baseados no fato já bem estudado de que o aborto é um evento que provoca agravos à saúde mental das mulheres, como ansiedade, depressão e síndrome pós-traumática, preocuparam-se em estudar se havia diferença nos índices de saúde mental entre dois grupos de mulheres: aquelas que praticaram o aborto provocado e aquelas que sofreram um aborto espontâneo.
Foram contatadas 268 mulheres e excluídas aquelas que não concordaram em participar do estudo, deficientes mentais ou pacientes psiquiátricas e uma vítima de estupro, resultando em uma amostra de 40 mulheres que experimentaram o aborto espontâneo e 80 que, voluntariamente, o induziram.
Todas as mulheres foram avaliadas dez dias, seis meses, dois anos e cinco anos após o aborto, segundo escalas que mediram o impacto do evento traumático (no caso o aborto), qualidade de vida, ansiedade, depressão e um questionário sobre seus sentimentos a respeito da gravidez interrompida.
Resultados
Os pesquisadores puderam comprovar que, mulheres que tiveram um aborto espontâneo, apresentaram um maior escore de ansiedade e de impacto traumático nas avaliações realizadas com dez dias e seis meses, acusando sentimentos de perda, pesar e negação, entretanto, este grupo demonstrou uma importante melhora nas avaliações tardias, ou seja, dois e cinco anos, atingindo índices de depressão, qualidade de vida e ansiedade semelhantes aos encontrados na população geral. Trata-se, portanto, de uma resposta saudável a um evento traumático que não deixou seqüelas.
Nas mulheres que praticaram o aborto provocado, os escores de saúde mental medidos foram significativamente maiores, acusando sentimentos de negação, culpa e vergonha, principalmente nas avaliações feitas em longo prazo, ou seja, dois e cinco anos, permanecendo com indicadores de saúde mental significativamente piores que a população geral. Caracterizou-se uma resposta a um evento traumático mal resolvido, gerando seqüela e provocando um distúrbio emocional duradouro.
A conclusão do trabalho é que o aborto provocado gera importante prejuízo à saúde mental das mulheres que o praticam, provocando depressão, ansiedade e sentimentos de culpa que deterioram a qualidade de vida.
Quero lembrar que a amostra em questão, ou seja, as mulheres norueguesas, não são submetidas a fatores sociais e/ou culturais que rejeitem a prática do aborto, e mesmo assim, ficam com uma clara e preocupante sensação de culpa que traz conseqüências para toda a vida da paciente. Trata-se, portanto, de um problema de saúde pública.
Gerson S. Monteiro, oportunamente, chamou-nos a atenção para a manipulação e a fraude nas estatísticas de abortos clandestinos no Brasil, números estes utilizados como argumento para a legalização do aborto, entretanto, a pergunta que se faz é a seguinte: independente do número de procedimentos clandestinos realizados, a descriminalização do aborto trará melhora à saúde da mulher?
Não quero entrar, em nenhum momento, na discussão do aspecto moral envolvido na questão, tento ater-me exclusivamente aos aspectos médicos, e seguindo esta linha de pensamento, permito-me alguns questionamentos:
Um procedimento realizado de forma clandestina por ser proibido, deixa de ser um problema quando é legalizado?
Lembremo-nos das drogas; muitos defendem a descriminalização do seu consumo para combater o crime do tráfico, seria essa uma saída? Os criminosos deixarão de ser criminosos pela ausência da condenação social?
Na Holanda, toda uma geração foi perdida devido à descriminalização das drogas, permitir seu uso não combate seus efeitos. Não seria o mesmo caso com o aborto?
Será que a legalização impedirá as meninas mais pobres e despreparadas que engravidam por ignorância, de procurar os “curiosos” que prometem a resolução clandestina do problema, ou vão procurar um hospital público, fazer uma ficha identificando-se e entrar para o sistema de saúde oficial expondo-se para fazer o procedimento com segurança? Será que os hospitais não vão exigir a presença de um maior responsável?
Se há uma preocupação legítima com a gestação em adolescentes; se estamos tentando evitar procedimentos médicos clandestinos; se temos a intenção de promover a saúde e o bem estar das mulheres, o caminho mais óbvio é a educação.
Não ficaria mais barato promover a orientação sexual nas escolas, agindo diretamente no grupo que sofre maior risco de gravidez acidental?
Não seria uma boa idéia munir os postos de atendimento básico de saúde com anticoncepcionais e preservativos que, além de prevenir a gravidez, ainda farão baixar a incidência de doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a tão temida AIDS, ao invés de montar equipes e de gastar material utilizando os hospitais públicos com procedimentos que poderiam ser evitados e que vão tomar o lugar de cirurgias realmente necessárias?
Tudo o que aprendi de saúde pública, epidemiologia e tudo o que me diz o bom senso, é que a melhor medida é sempre a prevenção, e que não teremos bons resultados se tentarmos resolver um problema criando outro.
Será inteligente tentarmos suprimir um efeito, no caso a gestação indesejada, sem atacar a causa?
Diante daquilo que já sabíamos da prática clínica, agora comprovada pelo estudo norueguês, o aborto não é a solução para o problema, mas a geração de outro problema, bastante grave, e que vai afetar a vida da mulher, agravando ainda mais o terrível quadro de abandono que já vivemos no Brasil.
O aborto é sim uma questão de saúde pública, por isso mesmo devemos evitá-lo.

*Dr. Décio Iandoli Jr. (44 anos) é médico cirurgião, doutorado em medicina no ano de 1999 pela Universidade Federal Paulista – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM). Presidente da Associação Médico-Espirita de Santos.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Um olhar pela janela urbana



Me vejo na rua,
No mundo da lua,
Me vejo agora,
Olhando lá fora,

Eu vejo muitos carros passando,
Alguns passeando,
Hermeticamente fechados, lacrados,
Com seus homens, mulheres e crianças,
Eu os vejo indo e vindo sem saber pra onde,
E porque existem.

Vejo também as casas,
Surpreendentemente engradadas,
Pessoas encarceradas, com medo,
Vejo só um pedaço do céu azul,
Mais fios elétricos entrelaçados e portes,
Do que nuvens.

Vejo trabalhadores empilhados,
Eu os vejo cansados, suados da lida,
Não há “paidegomia” e nem boemia na paisagem.

Vejo o “flanelinha” com sua ambição por espaço,
O olhar tenso e encucado dos transeuntes,
Não sei pra onde eles vão e eles também,
Nenhum animal perdido,
É meio dia.

Há muitas placas e parte delas não tem nada,
Há lojas e as prateleiras estão vazias,
Eu ali olhando pela janela,
Esperando o que?
Quem sabe, um sonho acontecer,
Ver as ruas florescerem,
O céu se abrir e a lua surgir ao escurecer,
Quem sabe, poder viver.
Caboco Nirso

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Danilo Gentili sobre preconceito. Muito bom

Eis o perigo de mexer com pessoas inteligentes….
O humorista Danilo Gentili postou a seguinte piada no seu twitter:
“King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?”
A ONG Afrobras se posicionou contra: “Nos próximos dias devemos fazer uma carta de repúdio. Estamos avaliando ainda uma representação criminal”, diz José Vicente, presidente da ONG. “Isso foi indevido, inoportuno, de mau gosto e desrespeitoso. Desrespeitou todos os negros brasileiros e também a democracia. Democracia é você agir com responsabilidade” , avalia Vicente.
Alguns minutos após escrever seu primeiro “twitter” sobre King Kong, Gentili tentou se justificar no microblog:
“Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?” (GENIAL) “Na piada do King Kong, não disse a cor do jogador. Disse que a loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeça de vocês é que têm preconceito.”
Mas, calma! Essa não foi a tal resposta genial que está no título, e sim ESTA:
“Se você me disser que é da raça negra, preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra, pois, se todas as raças são iguais, então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?
Quem propagou a ideia que “negro” é uma raça foram os escravagistas. Eles usaram isso como desculpa para vender os pretos como escravos: “Podemos tratá-los como animais, afinal eles são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra”.
Então quando vejo um cara dizendo que tem orgulho de ser da raça negra, eu juro que nem me passa pela cabeça chamá-lo de macaco, MAS SIM DE BURRO.
Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de v***** e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados.
Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado. E isso pra mim não faz sentido. Qual o preconceito com o macaco? Imagina no zoológico como o macaco não deve se sentir triste quando ouve os outros animais comentando:
- O macaco é o pior de todos. Quando um humano se xinga de burro ou elefante dão risada. Mas quando xingam de macaco vão presos. Ser macaco é uma coisa terrível. Graças a Deus não somos macacos.
Prefiro ser chamado de macaco a ser chamado de girafa. Peça a um cientista que faça um teste de Q.I. com uma girafa e com um macaco. Veja quem tira a maior nota.
Quando queremos muito ofender e atacar alguém, por motivos desconhecidos, não xingamos diretamente a pessoa, e sim a mãe dela. Posso afirmar aqui então que Darwin foi o maior racista da história por dizer que eu vim do macaco?
Mas o que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo “preto” pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: “Branco, Amarelo, Vermelho, Negro”?. O Darth Vader pra mim é negro. Mas o Bill Cosby, Richard Pryor e Eddie Murphy que inspiram meu trabalho, não. Mas se gostam tanto assim do termo negro, ok, eu uso, não vejo problemas. No fim das contas, é só uma palavra. E embora o dicionário seja um dos livros mais vendidos do mundo, penso que palavras não definem muitas coisas e sim atitudes.
Digo isso porque a patrulha do politicamente correto é tão imbecil e superficial que tenho absoluta certeza que serei censurado se um dia escutarem eu dizer: “E aí seu PRETO, senta aqui e toma uma comigo!”. Porém, se eu usar o tom correto e a postura certa ao dizer “Desculpe meu querido, mas já que é um afrodescendente, é melhor evitar sentar aqui. Mas eu arrumo uma outra mesa muito mais bonita pra você!” Sei que receberei elogios dessas mesmas pessoas; afinal eu usei os termos politicamente corretos e não a palavra “preto” ou “macaco”, que são palavras tão horríveis.
Os politicamente corretos acham que são como o Superman, o cara dotado de dons superiores, que vai defender os fracos, oprimidos e impotentes. E acredite: isso é racismo, pois transmite a ideia de superioridade que essas pessoas sentem de si em relação aos seus “defendidos”
Agora peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só porque eu sou branco que eu escravizei um preto. Eu juro que nunca fiz nada parecido com isso, nem mesmo em pensamento. Não tenham esse preconceito comigo. Na verdade, SOU ÍTALO-DESCENDENTE. ITALIANOS NÃO ESCRAVIZARAM AFRICANOS NO BRASIL. VIERAM PRA CÁ E, ASSIM COMO OS PRETOS, TRABALHARAM NA LAVOURA. A DIFERENÇA É QUE ESCRAVA ISAURA FEZ MAIS SUCESSO QUE TERRA NOSTRA.
Ok. O que acabei de dizer foi uma piada de mau gosto porque eu não disse nela como os pretos sofreram mais que os italianos. Ok. Eu sei que os negros sofreram mais que qualquer raça no Brasil. Foram chicoteados. Torturados. Foi algo tão desumano que só um ser humano seria capaz de fazer igual. Brancos caçaram negros como animais. Mas também os compraram de outros negros. Sim. Ser dono de escravo nunca foi privilégio caucasiano, e sim da sociedade dominante. Na África, uma tribo vencedora escravizava a outra e as vendia para os brancos sujos.
Lembra que eu disse que era ítalo-descendente? Então. Os italianos podem nunca ter escravizados os pretos, mas os romanos escravizaram os judeus. E eles já se vingaram de mim com juros e correção monetária, pois já fui escravo durante anos de um carnê das Casas Bahia.
Se é engraçado piada de gay e gordo, por que não é a de preto? Porque foram escravos no passado hoje são café com leite no mundo do humor? É isso? Eu posso fazer a piada com gay só porque seus ancestrais nunca foram escravos? Pense bem, talvez o gay na infância também tenha sofrido abusos de alguém mais velho com o chicote.
Se você acha que vai impor respeito me obrigando a usar o termo “negro” ou “afrodescendente” , tudo bem, eu posso fazer isso só pra agradar. Na minha cabeça, você será apenas preto e eu, branco, da mesma raça – a raça humana. E você nunca me verá por aí com uma camiseta escrita “100% humano”, pois não tenho orgulho nenhum de ser dessa raça que discute coisas idiotas de uma forma superficial e discrimina o próprio irmão.”

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Estudo reforça: áreas protegidas protegem de verdade


Vandré Fonseca


Estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan, Estados Unidos, que contou com a participação do brasileiro Britaldo Silveiras Soares-Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais, reforçou as evidências de que áreas protegidas reduzem o desmatamento da floresta amazônica brasileira.

O principal autor é o doutorando Christoph Nolte. As duas conclusões mais importantes, embora previsíveis, são: unidades de conservação de proteção integral são mais efetivas do que as de uso sustentável. Além disso, em áreas com grande pressão de desmatamento, terras indígenas ajudam a diminuir a derrubada da floresta.

trabalho saiu domingo, 10 de março, na edição on-line da Proceedings of the National Academy of Sciences, revista científica dos EUA. Os pesquisadores analisaram dados remotos de 292 áreas protegidas, divididas nas categorias Uso Restrito (como Estações Ecológicas, Reservas Biológicas e Parques Estaduais e Nacionais), Uso Sustentável (Reservas Extrativistas, Reservas de Desenvolvimento Sustentável) e Terras Indígenas.

Para Britaldo Soares-Filho, o resultado corrobora trabalhos anteriores, que demonstraram a importância das áreas protegidas. Há quase três anos, ele mesmo mostrou que, entre 2004 e 2006, a expansão de áreas protegidas na Amazônia reduziu em 37% o desmatamento na região. Publicado em maio de 2010, esse estudo indicava também que unidades de conservação e terras indígenas, se implementadas por completo, poderiam evitar a emissão de 8 bilhões de toneladas de Carbono até 2050.

“Talvez a maior surpresa é a descoberta de que Terras Indígenas funcionam melhor quando servem para reduzir o desmatamento em contextos de alta pressão pelo desmatamento”, afirma Arun Agrawal, um dos autores do novo estudo. “Muitos observadores têm sugerido que garantir autonomia substancial e direito à terra para povos indígenas vai levar a altos níveis de desmatamento, porque os grupos indígenas vão querer aproveitar todos os recursos à sua disposição. Este estudo mostra que – baseado nas evidências atuais – estes temores são equivocados”, afirma.

Os autores concluem que a criação de Unidades de Conservação de proteção integral em áreas próximas de cidades ou de grande valor para a agricultura pode gerar críticas, mas é importante para reduzir o desmatamento.




quinta-feira, 4 de abril de 2013

Megaprojetos abrem Amazônia para saque de recursos



Hidrelétricas seguem como o carro-chefe de um conjunto de outros investimentos, fazendo a abertura do rio Tapajós para o capital
As águas esverdeadas do Rio Tapajós estão na mira dos investimos públicos e privados, seja para tornar mercadoria a água, a energia elétrica, os minérios, ou a terra, por meio do agronegócio em plena expansão. De acordo com levantamento do Observatório de Investimentos na Amazônia, há 30 usinas hidrelétricas planejadas ou em fase de construção na Amazônia. Somente no PAC II, estão previstos investimentos de R$ 94,14 bilhões para construção de hidrelétricas na região – R$ 67,38 bilhões para obras em andamento (Jirau, Santo Antônio, Belo Monte, Santo Antônio do Jari, Colider, Teles Pires, Estreito, Ferreira Gomes) e R$ 26,78 bilhões em novos projetos (São Luiz do Tapajós, Jatobá, São Manoel, Sinop).
O BNDES emprestou volumosas quantias para empresas avançarem nas obras: até dezembro de 2011 já havia emprestado R$ 22,45 bilhões para a construção de UHEs na Amazônia, segundo dados do Observatório.
Na avaliação de Iury Paulino, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), por ser a última fronteira de expansão do capital no Brasil e com base natural vantajosa, a Amazônia tem atraído grandes empresas nacionais e estrangeiras. “Qualquer empresa que se instalar na região vai conseguir lucros extraordinários. Inclusive remuneração acima de qualquer média de lucro do mundo, em qualquer atividade que fizer. Esse período de crise é um momento em que a gente tem percebido um direcionamento das forças do capital para fazer o saque dos recursos naturais”, afirma.
A conjuntura atual da Amazônia mostra novas formas de apropriação das riquezas naturais e dos territórios onde vivem povos indígenas e tracionais. “A gente não está mais falando daquela fase inicial dos grandes projetos da Amazônia, quando grandes empresas nacionais e internacionais olhavam pra cá como imenso espaço vazio que precisava ser ocupado. Ou quando o governo militar olhava para Amazônia e pensava que essa economia precisava ser integrada à economia nacional, era um espaço que precisava ser ocupado. Vivemos uma nova fase dos grandes projetos na Amazônia, mais voraz e destruidora do que nunca”, analisa a advogada da Terra de Direitos, Érina Gomes, que enxerga a exploração atual focada nos bens comuns, estratégicos para a soberania nacional, como a água e os minérios.
As hidrelétricas seguem como o carro-chefe de um conjunto de outros investimentos, fazendo a abertura do rio Tapajós para o capital. “É como se nós tivéssemos abrindo estradas dentro da floresta, estradas dentro da Amazônia para fazer o saque dos recursos naturais, porque aí vem a soja, os portos, as hidrovias. Já se ouve falar até em ferrovias. Tudo isso proporcionado por um megaprojeto em conjunto”, analisa Paulino.
Para o militante, energia é essencial em qualquer processo no mundo hoje, e por isso será alvo de grandes disputas. “A energia elétrica é central em qualquer processo, tanto como produto, quanto como incorporada no sistema produtivo. E quem domina as fontes de energia, certamente dominará o mundo, isso é razão de grandes conflitos, e nós estamos no olho desse furacão”, explica.
Adequação das leis
O avanço de grandes projetos na região amazônica está calcado em uma série de desregulamentação de direitos já conquistados pelos povos tradicionais e de preservação ambiental. Darci Frigo, coordenador da Terra de Direitos, chama a atenção para “agroestratégias” da bancada ruralista no Congresso e suas ramificações com as empresas nacionais e transnacionais.
Entre as reorganizações jurídicas estão as mudanças no Código Florestal, que diminuíram as áreas protegidas para aumentar a extensão de terra usada na produção de celulose e outros monocultivos, visando principalmente o mercado externo; o aumento da pressão sobre o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para não avançar na regularização e reconhecimento das terras quilombolas e indígenas; a não aprovação da PEC do trabalho escravo, que tira a terra dos fazendeiros e grandes empresas que escravizam trabalhadores; além da mudança no Código Minerário para o avanço na exploração em terras indígenas.
“O mais grave é que essas mudanças legislativas estão sendo feitas em âmbito nacional com o viés de retirada de direitos dos povos e comunidades tradicionais e para facilitar as grandes obras do PAC, tendo como carro-chefe a construção de grandes hidrelétricas no coração da Amazônia, num primeiro momento. Na sequência virão os projetos de mineração e as velhas práticas de grilagem de terras e devastação da floresta”, avalia Frigo.
Fonte: Brasil de Fato