segunda-feira, 5 de abril de 2010

Aperema

Eu vi a Aperema, nas matas do Amapá,
uma apenas, mas me fez delirar,
Um fruto à frente, parecia ainda grande,
Lá se ia comendo e eu olhando.

Aperema
Quelônio da subordem Cryptodira, família emydidae

domingo, 4 de abril de 2010

Jesus e Judas

Contando sua história de infância o companheiro Espírita, Moab José publicitário, consultor de empresas e diretor do Lar “Pouso da Esperança, em São Luiz, dizia: quando menino, durante o “Sábado da Alelúia”, ficava olhando da janela a farra da “malhação do judas”. Eu e meus irmãos tínhamos vontade de participar, meu pai, entretanto, não permitia. “Jesus, meus filhos – dizia -, foi a encarnação do Amor... Se ele mandou que perdoássemos aos que nos fizessem mal, com certeza perdoou a Judas, também. E nós, mesmo contrariados, obedecíamos. O tempo passou... mas a personalidade de Judas continuou a me chamar atenção.

À época de Jesus, Judas era um nome bastante comum, tanto que um outro discípulo do Mestre, chamava-se Judas Tadeu. Judas Scariotes – o traidor – pertencia à classe dos “zelotas”, grupo que lutava para libertar a palestina do julgo romano. Homem rude e de caráter arredio, passou a seguir Jesus – não se sabe se por iniciativa própria ou se foi chamado como os outros -, assumindo a função de tesoureiro do grupo. Uma coisa é certa: ele via em Jesus um líder, o possível libertador do povo judeu da tirania de Roma e, sobre isso, criou expectativas que mais tarde o frustrariam. Jesus não era o “messias” que ele esperava, decepcionado, sentiu-se traído em seus anseios.

Ao que parece, como todo bom tesoureiro, Judas, preocupava-se em controlar ao máximo as despesas, conforme narra a passagem em que uma mulher unge Jesus com perfume de puro nardo, caríssimo, arracando dele o seguinte comentário: “Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários para dá-los aos pobres?”

Como os evangelhos foram escritos a partir dos anos 60 e 70 da era cristã, é natural que pesasse sobre Judas – agora o traidor - um certo preconceito. Tanto foi assim que João, na mesma passagem, faz o seguinte comentário: “Ele disse isso, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa comum, roubava o que aí era colocado.”

Pedro, muito embora tenha traído o Mestre três vezes seguidas, é visto por seus colegas de discipulado com um olhar mais generoso. Mesmo porque, segundo Jean Yves Leloup em “Caminhos da Realização”- editora Vozes -, entre Pedro e Judas há uma grande diferença. Enquanto Judas, embora tenha se arrependido “se fechou nas conseqüências negativas do seu ato”, desesperou-se recorrrendo ao suicídio, “Pedro não se fechou em seu carma” - após ter traído o Mestre, acreditou no perdão, deu a volta por cima e seguiu adiante. Aconteceu com Judas o mesmo que nos acontece, quando nos fixamos nos erros do passado e permanecemos apenas no arrependimento, deixando de viver as oportunidades de renovação que o dia de hoje nos oferece.

A Páscoa já fazia parte do calendário das festas judaicas, em comemoração à libertação da escravidão a qual o povo israelita esteve condenado no Egito de Ramsés II. Mais tarde, em 325 d.C., no Concílio de Nicéia, a Igreja instituiu a data no calendário cristão e que, segundo a tradição católica celebra a ressurreição de Jesus, três dias após a sua crucificação. Simbolicamente, o período que conhecemos como “Quaresma”, representam os quarenta dias em que Jesus se retirou para orar no deserto. Páscoa vem do hebreu “pessach”, e quer dizer passagem. Assim, para os judeus, significa a passagem pelo mar, saindo da escravidão para a liberdade. Para a igreja católica, a ressurreição do Cristo é a passagem desta para a outra vida, a vitória da vida sobre a morte.

Para o espiritismo, a ressurreição é a maior prova da imortalidade da alma, quando Jesus, em espírito, volta e aparece aos discípulos, numa demonstração irrecusável de que ninguém morre. É a passagem desta dimensão ilusória da matéria, para a dimensão real do espírito. Mas também, pode ser a passagem que nós, seres humanos, fazemos todas dias de nossas existências, superando nossos defeitos e erros, nossas dificuldades e dores, para “ressurgirmos” mais a frente, enriquecidos pela experiência abençoda da Vida. É Jesus que ressurge em nós, todas as vezes que somos compassivos, generosos, indulgentes...

Incoerentemente, num dia festejamos a ressurreição do Cristo, que pregou o amor ao próximo, o esquecimento das ofensas, o perdão aos inimigos, para depois, ainda no mesmo dia, utilizando-nos da lei do olho por olho, dente por dente, descarregarmos toda a nossa raiva e frustrações sobre Judas, mesmo que representado por um boneco de pano.

Dois mil anos de cristianismo e ainda não aprendemos a perdoar... Assim como Judas, muitos ainda traem o Cristo até os dias atuais. Nos referimos àqueles que se dizem cristãos, mas estagnaram na teoria e não praticam seus ensinamentos; aqueles que desvirtuaram o conteúdo de sua mensagem sublime, substituindo-a pela frieza dos cultos exteriores ; aqueles que, transformados em verdadeiros mercenários da religião, vendem terrenos no céu ou prometem a salvação em troca de contribuições e ofertas; os que usam a religião como tranpolim para alcançarem representação política; os que utilizam a figura do diabo para amendrontar e extorquir dinheiro dos fiéis, construindo verdadeiros impérios, fazendo das igrejas empresas milionárias, verdadeiros negociadores da fé, amontoando riquezas que “as traças corroem e os ladrões roubam”.

Diante disso, as trinta moedas ganhas por Judas, pouco ou quase nada representam...

Por Moab José

Adaptação Nilson Mesquita