segunda-feira, 30 de maio de 2011

Belo Monte, o calcanhar de Aquiles do governo

IHU-On line

“Os processos de Belo Monte e do rio Madeira são reflexos da apatia do brasileiro”. Esta é a conclusão a que a ativista ambiental Telma Monteiro chegou depois de lutar, por anos, contra a construção das hidrelétricas na região amazônica. Neste momento, Telma está na Holanda para apresentar às autoridades do governo holandês e representantes de organizações privadas um relatório que elaborou a respeito do interesse de empresas holandesas nas hidrelétricas e hidrovias planejadas nos rio Tapajós e Teles Pires. “O governo brasileiro pretende lançar mão dos recursos naturais – exportando-os como commodities – para se transformar na quinta maior economia do mundo. O modal hidroviário, com a experiência holandesa, é considerado o principal meio para se chegar lá”, escreveu ela na entrevista que concedeu  por e-mail à IHU On-Line.
Telma Monteiro é especialista em análise de processos de licenciamento ambiental e coordenadora de Energia e Infraestrutura Amazônia da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé.
A entrevista foi feita em parceria com o Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT.
Confira a entrevista.

domingo, 29 de maio de 2011

A propósito da corrupção

“Na primeira noite eles se aproximam, colhem uma flor do nosso jardim e não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: primeiro pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque nunca dissemos nada, já não podemos dizer nada”. Poema de Vladimir Maiakowsky.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Um caso de descaso e de amor


Presenciar certas coisas sempre nos trás experiências emocionantes e eternas. Passei nesta 4ª feira, dia 25 de maio de 2011 à noite por uma dessas situações muito representativas e emblemáticas.
Foi no evento de diplomação dos imortais da Academia Capanemense de Letras e Artes na Associação Nassau. O primeiro momento, muito triste, a composição da mesa, quando foram chamadas as autoridades e convidados especiais e vimos os poderes  judiciário, legislativo e executivo, não se fazerem presentes, nenhum representante sequer, desdenharam, desprezaram, negligenciaram um momento raro em nosso município, uma iniciativa real de apoio e fomento a cultura, uma tremenda impolidez e desprezo pelas nossas raízes e nosso povo. Como esta gente tem coragem para se dirigir a população pedindo votos, quem vai acreditar? 
Nem por isso a festa foi menor, continuou a ser o que teria de ser, um show de cultura, um avanço para novos tempos, uma iniciativa realmente reconhecida pelo público presente, onde os artistas se esmeraram em mostrar o talento tão desprezado pelas autoridades da cidade. 
Alegria, felicidade, faces vermelhas pelo prazer de estar ali, presenciando um momento histórico para Capanema. É assim que nascem os grandes movimentos de resistência, onde o ideal está acima das realizações tangíveis, a construção aqui é de seres humanos educados, conscientes, cidadãos éticos e com muito amor pelas causas do bem.
O discurso final do Presidente da ACLA-Academia Capanemense de Letras e Artes, Beto Buarque, foi um desses momentos de indignação do homem de bem, onde a força das palavras se entrega docilmente a força do coração. De tão vibrante, aquele momento foi como que um despertar no silêncio de um ser adormecido secularmente, por efeito de fortes sedativos mentais. Me senti ótimo, bebi aquelas palavras e deixei que elas ficassem me envolvendo por um longo tempo, era como se eu as tivesse pronunciado. Dizem que quando isso acontece é porque todos entramos no campo das idéias onde as palavras não mais tem expressão, ficando apenas a vibrante manifestação que vem nas ondas sonoras que mais se comparam a ondas sísmicas causando um terremoto íntimo e mudando sobremaneira nossa postura diante do mundo.
"ELES NÃO VIEREM!!!", assim se manifestou ainda com rosto triste, nosso amigo Beto, "PERDERAM!!!" gritou mais forte com o rosto crispado pela indignação e mais feliz, de cabeça erguida, como aquele homem que enfrenta de pé e sem medo uma orda de guerreiros numericamente maior mas sem força para vencer.
Fico com esse momento final, levei para dormir a graça das dançarinas, o forte apelo cultural da peça sobre a Lenda da Maria Cachorro, a espetacular performance do transformista, o linguajar expressivo dos cordelistas, a expressão de enlevo e paz tão visível nos presentes, o lançamento do livro, a mostra cultural. Me deu um orgulho danado esta noite. Foi um dia em que o homem foi importante, teve espaço, dançou sem se cansar, foi honrado e mostrado como a obra prima da natureza, a criatura respaldando a perfeição do Criador.

Cabôco Nirso


sábado, 21 de maio de 2011

O que será de mim? Reflexões de um mendigo

Nunca escreveram minhas poesias,
quando percebi você, foi apenas um foco unilateral,
vagava pelas ruas, transparente,
vivia sem dor, mas sem amor,
buscava praias distantes, mas nunca arredei um pé sequer daqui,
penso expandir meus horizontes,
mas quem vai me olhar?
como brilhar?
que distância percorrer?
olho para todos os lados,
vejo luz,
não vejo sorrisos,
apenas máscaras,
onde muitos dramas se escondem,
caído, desengonçado e desequilibrado,
não me remeto mais com audácia,
já calculo demais,
mas, e o sonho?
e aquele dia sob a árvore, olhando o rio,
a corrente leve,
a canoa velejando,
o remador...
e o sonho?
o moleque correndo nas ruas,
de peito aberto,
o adolescente brincando e “nem aí” para o futuro,
a paz por dentro e por fora,
porque tudo acabou?
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não tenho mais nada p’ra dizer,
fico só lamentando que seja assim,
dia após dia de dia após dia,
homens e mulheres passando apressados,
infiltrados em si mesmos,
com suas lindas histórias, talvez,
o que pensam essas mentes?
o que fazem esses corpos céleres?
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não sei se levanto da calçada que me acolhe tantos anos,
minhas mãos estiradas já não descem mais,
minha cara marcada pelo disfarce já não convence,
não sei nem quem eu sou,
só minha cachaça, minha droga me amam,
fujo constantemente em sua companhia,
faço viagens alucinantes,
e quando eu volto,
está aí ainda a rua, o cheiro podre do meu próprio corpo,
um sem número de rostos me rejeitando,
os bolsos vazios,
a barriga gemendo,
penso que um sorriso pode me mostrar melhor,
mas esqueci de olhar no espelho há muitos anos,
e o que tenho são apenas caretas com meus cacos de dentes pretos e estragados.

Uma menina para e me olha com ternura,
levanto as mãos abertas e olho triste, de verdade,
ela não coloca nem uma pequena moeda sequer,
aquelas pequenas mãos tocam as minhas levemente,
aperta-as,
eu fecho meus olhos,
aprecio ao máximo aquele momento raro,
não lembrava mais como era o toque do amor,
não é possível explicar,
foi eterno aquele momento, quase desmaio de prazer,
que saudade de mim!
faziam horas que a menina se fora,
mas não ousei abrir os olhos,
não sentia mais fome,
nem via ninguém passar,
nesse dia levantei, fui tomar banho,
arrumei roupas limpas,
andei pela cidade,
pensei,
mas alguns toques daquele eu levanto de vez.

Chegou a noite e foi assim,
quase como sempre,
a diferença, é que agora,
uma menina me tocou!

Cabôco Nirso

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Energia eólica vai produzir mais que Belo Monte até 2013

Amazonia.org.br

De acordo com Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os 141 novos projetos no setor da energia eólica que serão investidos no Brasil em dois anos proporcionarão um incremento de 4.343 MW, superior aos cerca de 4.500 MW previstos para a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará.  As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
Dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) revelam que, até 2013, serão investidos no país R$ 25 bilhões em 141 projetos do setor, espalhados pelos estados de Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia e Rio Grande do Sul.
Atualmente, a capacidade de geração de energia eólica no Brasil é de 928,9 MW.  Segundo o presidente da EPE, as fontes renováveis de energia representam, hoje, aproximadamente 8% da eletricidade produzida no país.  Em dez anos, devem chegar a 14%.  Somente a CPFL Energias Renováveis está investindo R$ 5,8 bilhões no setor.  Já a Renova Energia planeja aplicar R$ 1,2 bilhão em vários projetos, principalmente parques eólicos.
(Amazonia.org.br)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Comunidade virtual visa destravar PEC do Trabalho Escravo

Bianca Pyl e Maurício Hashizume*

Foi lançada na Câmara dos Deputados,  quinta-feira (12), a comunidade virtual Pela Aprovação da PEC 438 – Contra o Trabalho Escravo. Administrado pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Casa, o novo espaço inaugurado na internet visa incentivar a participação cidadã em redee aglutina novidades e materiais de referência sobre o tema.

sábado, 14 de maio de 2011

Poema para o motoqueiro

Os motoqueiros são alvos de muitos acidentes, muitas vezes por imprudência e outras por desrespeito dos veículos maiores. Muitas famílias choram perdas irreparáveis de jovens que se despedem da vida ainda em tenra idade, outras vezes trabalhadores motaxistas deixam de sustentar  seus entes queridos quando param repentinamente de trabalhar e ainda tem que cuidar da saúde física que muitas vezes fica comprometida por graves acidentes. Por outro lado muitos pais irresponsáveis entregam motos em mãos de filhos despreparados e que acabam causando grandes estragos a sociedade. É claro que a moto é um veículo espetacular, onde o vento bate de frente, há uma grande sensação de liberdade e ainda uma grande economia de combustível, é com certeza o veículo da classe média baixa e dos pobres. Lembrando tudo isso fiz esse pequeno poema:


Poema para o motoqueiro

A moto é um momento de liberdade,
porém!
de reflexão,
um instrumento de alegria,
entretanto!
pode trazer grandes tristezas p’ro coração,
usar a moto pode ser fonte de felicidade,
mas, atenção!
seja sensato, prudente,
“vai com calma que o andor é de barro”,
use a moto,
mas também a cabeça,
não apenas para o capacete,
mas principalmente para pensar no amanhã

... e naqueles que te amam.

Por Nilson Mesquita

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Concurso vai eleger melhor 'poetinha' de Belém

Estão abertas as inscrições para o concurso do 'Dia da Poesia', em comemoração ao dia Estadual da Poesia, homenageando o saudoso Ruy Panaratinga Barata. Alunos de escolas públicas municipais e estaduais podem se inscrever até o dia 25 de junho.
  
Sem restrição de tema, o concurso promove uma sadia disputa que tem como base a literatura e a poesia. Os alunos que estiverem cursando do 6º ao 9º ano podem participar. A obra deverá estar dentro de um envelope lacrado, contendo o nome do autor. Em um segundo envelope, deverá conter três cópias, com o nome da instituição de ensino.

 Todos os envelopes devem ser enviados para Manoel Reinaldo Filho, diretor do Planetário Sebastião Sodré da Gama. A premiação acontecerá no dia 30 de setembro. Informações: 4008-2225/3232-1177.

Felicidade em pauta

Tema é discorrido pelo senador Cristovam Buarque na Semana Jurídica
  • Felicidade em pauta
  • Felicidade em pauta
  • Felicidade em pauta
  • Felicidade em pauta
EsquerdaPoliana NunesDireita
Promover a felicidade não é tarefa fácil, mas, para o Senador da República e professor Dr. Cristovam Buarque, ela pode ser atingida por meio de serviços promovidos pelo Governo. E foi para explicar essa ideia que ele ministrou a palestra “A Garantia dos Direitos Fundamentais: a PEC da Felicidade”, evento da Semana Jurídica 2011.

Promovida na manhã do dia 06 de maio, a palestra contou com a participação de estudantes e professores do curso de Direito. De acordo com Buarque, “a felicidade é um conceito da subjetividade, mas as condições para buscá-la não. Podemos promover a felicidade ao dar comida a quem tem fome, possibilitar a boa educação para no futuro garantir melhores condições de vida e, vivendo melhor, eliminando entraves, temos possibilidade de sermos felizes”, disse o senador.

Cristovam informou ainda que os corruptos causam a infelicidade em dois lados: “primeiro, ao tomar para si o dinheiro que poderia ser investido no benefício da sociedade e, segundo, ao desmoralizar seus eleitores, mostrando-se incapaz de representá-los”, comentou.

A Semana Jurídica de 2011 contribuiu, segundo Buarque, para a felicidade de muitos estudantes e também para a sua própria. “Me sinto feliz aqui em uma universidade, e é bom lembrar que isso só é possível por causa da liberdade”, finalizou.

domingo, 8 de maio de 2011

Movimento Xingu Vivo divulga vídeo desmentindo propaganda de Belo Monte


O Movimento Xingu Vivo para Sempre divulgou nesta segunda-feira (2) um vídeo desmentindo as informações da empresa Norte Energia, responsável pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.  A peça publicitária da empresa, de 15 segundo, está sendo divulgada em treze aeroportos brasileiros e afirma que "nenhuma terra indígena será alagada" com a construção da usina.
Na versão realizada pelo Movimento, eles afirmam que "o que a Norte Energia não quer que você saiba é que se for construída a hidrelétrica vai secar 100 km do rio, acabando com a vida do Xingu.  Inclusive dos índios".
O Movimento também ressaltou, em seu site, a falta de infraestrutura no local, que deveria ser resolvida com o cumprimento das condicionantes impostas pelo Ibama.  "Quem for a Altamira, no Pará, verá que não há hospitais, saneamento, segurança, nada.  Quem espera luz no fim dos canais de Belo Monte, esperará no escuro, porque luz é que os 4 mil mw de energia média da usina não vão gerar".
Assista ao vídeo do Movimento Xingu Vivo Para Sempre

Compare com o vídeo produzido pelo consórcio:
















sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mulher do mundo

"Ser" vivente
Reluzente
Que ama com esse coração escondido
Que não toca
Mas emociona



"Ser" diferente
Uma época à frente
Um homem fugidio
Uma garra a toda prova
Mostra-se como é
Sem medo de viver

"Ser" andante
Voando acima dos rios
Dos igarapés
Amazônia grande
Pequena mulher
Por onde andas
Nascem flores
Vivem todas as gentes

"Ser" sozinha
Te vejo agora
Neste insignificante poema

Tocas-me caudalosamente
Trazes ternura
No aconchego do colo
Palpitante
Amoroso

Sempre terei saudades
e ficarei assim
te amando demais.

Homenagem a minha mãe.
22/09/07

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Como os Estados Unidos criaram Bin Laden

Por Antonio Martins*


Dragão, de M.C. Escher (detalhe)
A ordem formal para detonar o último esconderijo de Bin Laden foi dada por Barack Obama na manhã de sexta-feira, informou em 2/5 o New York Times. Antes de rumar para o Alabama, onde acompanhou o socorro às vítimas de tornados violentos, o presidente determinou que forças especiais da central de inteligência dos EUA – a CIA desencadeassem o ataque. Instalado numa casa em Abbottabad, a apenas 50 quilômetros da capital do Paquistão, o líder da Al Qaeda teria resistido ao comando que o localizou. Segundo fontes norte-americanas, foi ferido na cabeça e em seguida, estranhamente, sepultado no mar. As circunstâncias exatas da operação ainda são desconhecidas.
Ironicamente, a CIA, encarregada de conduzir a operação que liquidou Bin Laden, está estreitamente associada ao surgimento do terrorista. Pouco se falará a respeito, nos próximos dias, mas tanto o homem de barbas longas e olhar calmo quanto a própria Al Qaeda foram conscientemente criados pelos Estados Unidos, no contexto da disputa contra a União Soviética, na “guerra fria”.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O encontro de Frans Krajcberg e Thiago de Mello - Um raro momento histórico


João Meirelles Filho


Frans Krajcberg e Thiago de Mello se encontram na Bahia para homenagem ao escultor polonês-brasileiro. Crédito: João Meirelles Filho
– Eu sou revoltado, não tem um intelectual para dizer que tem um povo nesta floresta! Nos jornais só falam que estão queimando as árvores, e o povo que mora lá? – pergunta Frans Krajcberg.
– Está aqui, ao teu lado, este filho da terra... – e aponto Thiago de Mello – na tua frente!
– Os filhos da floresta não conhecem a floresta – emenda Thiago – e quem conhece é chamado de doido!
– É a luta tremenda, você não pode imaginar! – responde Frans – todo mundo fala Brasil, Brasil, Brasil... mas quem conhece este Brasil? – e arremata – a juventude: completamente despolitizada!
– Frans vai mais longe – e Thiago olha pra mim – a floresta sozinha é só paisagem.
Este é o resumo do diálogo entre o escultor polonês-brasileiro Frans Krajcberg, 90 anos, e o escritor amazonense Thiago de Mello, 85 anos, na ensolarada tarde de 6 de abril, em Salvador. Frans, um dos maiores escultores brasileiros, reconhecido mundialmente, e Thiago de Mello, o grande poeta da Amazônia.

Homem de poucas palavras, palavras afiadas, Frans acompanhava, aflitíssimo, os preparativos para a retrospectiva que abriria no dia seguinte. Instruía seus auxiliares que trouxe de Nova Viçosa, onde mora. A todo momento, observava a demora na montagem da iluminação, a posição das fotografias e esculturas.


Expedição a Juruena, no noroeste do Mato Grosso, em 1986. Crédito: João Meirelles Filho
Sucede que há 25 anos eu não me encontrava com Frans. Em 1984 eu o conheci e logo seguimos para uma expedição a Juruena, no noroeste de Mato Grosso, acompanhado de outro artista plástico, Sepp Baendereck. Na última vez que viajamos, desta vez somente eu e ele, em 1986, eu tinha 25 anos e ele, 65.

O Governo da Bahia, depois de lhe conceder o título de cidadão, agora lhe presenteia com mais esta homenagem no Palacete das Artes Rodin Bahia. “Eu doei tudo para o Governo da Bahia”, Frans fala, com orgulho, em retribuir a terra que o acolheu. Mas está transtornado: “Eu quero ir embora do Brasil! É o quinto roubo agora! E ninguém é preso?”

Demorei a compreender que não se tratava de um roubo qualquer. “Ninguém foi preso, como pode? Um ambiente deste! Roubaram o colar que carreguei a vida toda, que os soldados de Hitler enforcaram com a minha mãe! ...Roubaram a medalha que ganhei do Stalin como herói da guerra!” E ameaça: “No fim do mês eu vou pra Europa. Não volto mais! Há possibilidade que eu vá me instalar lá...”


Encontro com enorme cipó durante a expedição. Crédito: João Meirelles Filho
É difícil compreender que uma obra de tal relevância ainda não mereça atenção. Houve tentativas em Curitiba, em São Paulo, mas, concretamente, só Paris possui um espaço dedicado ao artista. O Governo da Bahia está diante deste desafio: preservar acervo de dezenas de grandes esculturas com materiais tão perecíveis, milhares de gravuras e obras diversas, quinhentos mil slides, milhares de livros... Frans está preocupado, grita por atenção...

As homenagens se sucedem. Minas Gerais também lhe concede uma medalha – a da Inconfidência. A França lhe homenageia com exposições nos próximos meses. Convites para falar no mundo todo... Mas o artista está inquieto: “Há dois anos não faço um único desenho!”

Mas muda de assunto, quer empolgar quem está por perto para a causa da natureza. “Você não sabe o que o mundo está falando da Amazônia! Este é o ano mundial da floresta e ninguém fala disto!” E seus olhos brilham. O mesmo brilho que vi nos olhos do menino de 65 anos subindo em cipós, correndo no mato, pulando de alegria a cada fotografia.

Elogia o apoio do governo da Bahia, o nome da exposição e do catálogo: “Grito: o ano internacional da árvore”. Há um novo livro – Frans Krajcberg – Natureza. São 216 páginas de reproduções fotográficas. Este livro é bem mais alegre que os anteriores, há mais esperança. No entanto, como presenciei algumas delas no momento do clique da máquina, pude sentir o que cada uma representa ao artista.


Frans Krajcberg. Crédito: João Meirelles Filho
Para Thiago de Mello, que assina um poema inédito, “A Arte de Krajcberg, Amor, assombro e fúria”, Frans é o cavaleiro da esperança. “Frans atendeu o chamado/ e entendeu o seu destino,/ que perseverante cumpre/ com amor e indignação.//” Mais adiante segue. “É a sua parte, sua maneira/ luminosa de servir/ mais que à vida da floresta./ à do homem que vive nela,/ à do homem que vive dela”. E conclui: “Não é grito de guariba,/ não é esturro de onça, nem silvo do Curupira./ É a mata pedindo ajuda./ A floresta é a tua casa,/Cuida dela com amor”.

Há uma confissão a fazer. Frans é responsável pela grande guinada profissional de minha vida. Ao acompanhá-lo pela Amazônia na década de 1980, Frans provocou-me profunda reflexão. O seu olhar vibrante para a natureza converteu-me, para sempre, para a carreira de ambientalista. De voluntário da então pequenina ONG em que militava, a Fundação SOS Mata Atlântica, tornei-me profissional, em detrimento do trabalho na empresa familiar de colonização e pecuária.

Também merece uma nota o fato que, dias antes de encontrá-lo na Bahia, descobri um diário e um conjunto de gravações em fitas K7, contendo entrevistas com a biografia de Frans, ambos considerados perdidos. Melhor: ao ler o diário e ouvi-lo em Salvador percebo-o incansável, ocupado em tornar este um mundo melhor. Como quer Thiago, Frans não é uma árvore, é uma floresta. “Eu vejo as queimadas, eu sou um homem queimado”, Frans desabafa. “Você precisa mostrar de uma maneira muito forte as queimadas da Amazônia e os índios. Esta deve ser a prioridade. O mundo quer saber”.

E Thiago concorda. “Não podemos desanimar”, e toca no ombro de Frans, que reage, não gosta de ser cutucado! Mas a sua reação pede um abraço. E Thiago o abraça, ao que Frans se alegra. “Eu adoro este homem (sobre o Thiago)” E retoma seu mantra. “Vocês não sabem o que está acontecendo nesta Amazônia, não tem um brasileiro que diz que tem um povo que mora na floresta. Eu grito pela Amazônia!”

Em 1978 os artistas plásticos Frans Krajcberg e Sepp Baendereck e o crítico de arte Pierre Restany escreveram o Manifesto do Rio Negro, pelo naturalismo integral. Thiago acredita que as mudanças climáticas, o avanço sobre a floresta e o planeta no limite, exijam um novo manifesto (planos para o futuro). Um manifesto amplo pela cultura; a Amazônia respeitada pelo que ela é! Não por seu potencial econômico, energia hidrelétrica, o emprego imediato da biodiversidade. A Amazônia respeitada por sua Natureza e Cultura.

Mesmo emocionado com as homenagens pelos 90 anos, transtornado com os sucessivos roubos, e decidido a mudar-se para a Europa, Frans ainda acalenta a vontade de retornar à Amazônia, de visitar a casa de Thiago de Mello, no rio Andirá, em Barreirinha, no Amazonas. “Quero ficar de frente para uma árvore o tempo que eu quiser, fotografando. Quero fazer imagens da Amazônia, filmar, eu gostaria de fazer imagem de trabalho, eu quero entrar seriamente na mata. Quero viajar para o Rio Negro, fazer um livro só de texturas da água!... O mundo fala muito da Amazônia, e nós podemos mundialmente reforçar!”. E Thiago de Mello arrebata “É o cavaleiro da esperança. É o pacto do amor do Homem com a Floresta!”


João Meirelles Filho é colaborador de ((o)) ecoAmazonia, diretor do Instituto Peabiru e escritor (Livro de Ouro da Amazônia e Grandes Expedições à Amazônia Brasileira 1500 - 1930). No momento escreve o livro - Grandes Expedições à Amazônia Brasileira – Século XX, onde haverá um capítulo dedicado a Frans Krajcberg e outro a Thiago de Mello.