quinta-feira, 14 de julho de 2011

Turismo em Brasilia e a cidadania


O Brasil é um espetáculo, há oportunidades diversificadas para turismo interno. Em Brasília por exemplo, uma possibilidade muito pouco divulgada é o turismo que vou chamar aqui de Turismo de Cidadania. Mostrar para as crianças o Congresso Nacional por dentro, o Palácio do Planalto, a Esplanada dos Ministérios são coisas que tem sido pouco divulgadas e valorizadas visto que política é algo que leva sempre o rótulo dos corruptos e demagogos que deixaram barreiras quase intransponíveis para os cidadãos. Política, lógico, é algo extremamente necessário para todos, é nobre, é importante e aquele que se propõe a um posto na política é um corajoso, um cidadão na maior concepção da palavra. No Congresso Nacional, eu e as crianças fizemos uma visita guiada e muito educativa, vimos exposições de presentes recebidos pelos nossos parlamentares vindos de países que visitam aquela casa, os espetaculares salões recheados de obras de arte, os plenários da Câmara dos Deputados e do Senado, tivemos oportunidade inclusive de ver alguns parlamentares discursando, almoçamos no restaurante do senado que é aberto para quem quiser, e assim, entre tantas novidades verifiquei na alegria das crianças, que podemos mostrar e falar sobre política sem ser chato, mostrando o valor e a importância desta profissão.
Nas pequenas cidades, como é o caso de Capanema no Pará onde moro, bem que o Prefeito e Vereadores poderiam abrir aquelas casas para os estudantes e famílias da cidade para mostrar como funcionam aqueles órgãos do município, tenho certeza que seria de grande importância na formação dos futuros cidadãos das cidades, desmistificando a política e incentivando que nossos governantes e parlamentares do futuro tenham mais consciência da importância de suas atividades. Outro dia um menino me disse que todo político é ladrão, ao que retruquei imediatamente com explicações diversas, ele ficou aparentemente satisfeito com o que falei mas foi muito triste ter que explicar algo que não há tantas evidências na mídia e nem iniciativas para fazer com as crianças entendam a importância daqueles que detém as atribuições de conduzir a evolução coletiva de uma comunidade.
Em Brasília estão disponíveis muitas informações, mas acho que o turismo nas Câmaras Municipais, Prefeituras, Fóruns, etc., seriam uma inovação em muitos estados e municípios e serviria para o desenvolvimento dos verdadeiros valores para o surgimentos dos políticos éticos e responsáveis que o Brasil tanto precisa.

Governo prepara ações preventivas à exploração sexual de crianças e adolescentes

Amanda Cieglinski, da Agência Brasil

Ações específicas de prevenção à exploração sexual de crianças e adolescentes nas cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 e nas regiões onde serão construídas as hidrelétricas de Jirau (RO) e Belo Monte (PA) estão sendo preparadas pelo governo. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (13) pela ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), Maria do Rosário, na abertura de seminário promovido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) sobre os 21 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
“Nossa atitude é totalmente preventiva. Nós estamos planejando ações de fortalecimento dos conselhos tutelares, há uma operação já organizada para a região de Belo Monte e Jirau. Já temos parcerias com várias empresas e com a sociedade civil, e estamos atuando com as prefeituras para impedir que a exploração sexual se instale. Há um afluxo muito grande de homens nessas grandes obras e, por isso, temos essa preocupação”, disse a ministra.
O objetivo do seminário é discutir de que maneira o setor empresarial pode contribuir na prevenção do problema. O Sesi já desenvolve em 12 capitais um programa específico de recuperação de jovens que foram vítimas da exploração sexual. Eles recebem apoio de psicólogos e pedagogos, orientação jurídica e médica, além de participarem de cursos nas escolas do Sistema S para garantir a inserção no mercado de trabalho. Maria do Rosário disse que o projeto chamado Vira Vida poderia ser transformado em política pública para que seu alcance seja ampliado. Hoje o programa atende 1,8 mil jovens de 16 anos a 21 anos de idade.
“O setor empresarial tem uma importância vital no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes. Muitas organizações já faziam alguma coisa em benefício desse público, mas precisava de um último elo, o mundo empresarial. Depois de recuperarmos a autoestima desse jovens e prepará-los para o trabalho, nós precisamo de emprego e quem tem isso são os empresários”, disse Jair Meneguelli, presidente do Conselho Nacional do Sesi.
Sobre o aniversário de 21 anos do ECA, os representantes da sociedade civil, governo e empresários reconheceram que a legislação permitiu importantes avanços na garantia de direitos de crianças e adolescentes, mas que ainda falta avançar na sua implantação.
“A prioridade absoluta assegurada pelo ECA a cada criança e adolescente ainda não está totalmente garantida. Os avanços conquistados não são realidade para todas as crianças. Para que o Brasil realmente chegue a universalização dos direitos com equidades, precisamos o engajamento de todos. E temos visto com muita satisfação como as empresas brasileiras vêm fortalecendo seu conceito sob a responsabilidade social que devem assumir”, declarou a representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Marie-Pierre Poirier.
Fonte: (Agência Brasil)

sábado, 9 de julho de 2011

Passando pela Gruta de Maquiné/MG vi também a casa de Guimarães Rosa

Estive hoje na Gruta de Maquiné em Minas Gerais, a beleza é estonteante, é impossível não gostar e achar que estamos num céu em plena terra. Fiz algumas observações: Não há mais o gotejamento que foi responsável pela formação dos estalactites e estalagmites, segundo o guia, faz parte da degradação ambiental da região. Realmente, estive nessa região em 1980, e havia muita vegetação.

Naquela época vi muitas pessoas visitando a gruta e uma infraestrutura muito mais organizada. Não é o que vi hoje, fiquei triste de ver uma certa decadência no apoio que fica em frente. A beleza do lugar merecia mais atenção do governo. Não adianta buscarmos a evolução do Brasil do ponto de vista econômico apenas com a destruição de florestas e rios para a agricultura, pecuária e geração de energia, é necessário valorizar o turismo, pois o que não falta são lugares espetaculares por esse Brasil.


Chamou-me atenção que um pesquisador Dinamarquês, Peter Lund, realizou a exploração da gruta no século XIX e levou para a Dinamarca a maioria dos fósseis encontrados na gruta, está aí uma coisa que não concordo, sei que existem leis, mas acho que deveriam ser revistas e todo o patrimônio, seja material, cultural, científico deveria ficar no país de origem. Os países com mais recursos culturais e econômicos tem em seu poder um imenso acervo de outros países. Seria bom a ONU entrar nessa história, acredito até que já há alguma coisa e levantar um debate amplo para remover as injustiças nesta área.Passando por Codesburgo/MG no retorno, soube que ali nasceu o escritor Guimarães Rosa, acho que foi aí, com esse ambiente maravilhoso que ele buscou sua inspiração e serenidade para escrever coisas tão fantásticas em sua carreira de emérito autor de verdadeiras obras primas, fiquei muito orgulhoso do Brasil e feliz de estar ali tão perto de maravilhas da natureza e da fonte de inspiração deste grande pensador do Brasil.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Cai preocupação do brasileiro com a preservação ambiental

Instituto Akatu
Entre 2007 e 2011, o percentual de brasileiros que dizem adotar hábitos de consumo que preservam o meio ambiente caiu de 65% para 57%, segundo pesquisa nacional feita pela Federação do Comércio Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) divulgada em junho. Há cinco anos, quando o levantamento começou a ser realizado, 26% não consideravam a questão ambiental na hora de consumir, agora são 37%. Em 2007, 9% não responderam à pergunta, contra 6% em 2011.
Nos últimos cinco anos, segundo a Fecomércio, houve redução de hábitos como fechar a torneira ao escovar os dentes (caiu de 92% para 86%), apagar as luzes ao sair de determinado ambiente (de 93% para 88%), se programar antes das compras de alimentos para evitar desperdício (de 76% para 72%). “É difícil fazer uma afirmação genérica de que o consumidor brasileiro está menos consciente”, pondera Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu.
Ele explica que desde 2003, o Akatu vem medindo a consciência do cidadão no consumo e para isso, aplica uma metodologia própria. De acordo com esse mapeamento, o consumidor brasileiro é categorizado em quatro grupos conforme o nível de consciência e mobilização para o consumo mais sustentável; do mais alto para o mais baixo nesta ordem: conscientes, engajados, iniciantes e indiferentes.
De acordo com Mattar, pelo mapeamento do Akatu, há uma queda de consciência no consumo apenas entre no grupo de brasileiros perfilados nas duas faixas menos conscientes. O crescimento no consumo, nos últimos anos, e a inclusão de camadas consideráveis da população em níveis de renda que possibilitaram um consumo represado explicam um pouco este perfil. Em geral, este consumidor se preocupa mais com as coisas que dizem respeito a ele mesmo e no curto prazo, e menos com as que dizem respeito à sociedade no longo prazo.
“Já entre os consumidores considerados conscientes, que representam quase um terço da população brasileira, vem melhorando o comportamento em termos de consciência do impacto do consumo, seja sobre o meio ambiente, seja sobre a sociedade. Isso quer dizer que esse grupo internalizou a consciência do consumo e está no dia-a-dia utilizando essa consciência”, ressalta Mattar.
“O trabalho do Akatu tem foco no consumidor”, diz Mattar. Segundo ele, para reverter esse quando, o Akatu busca tanto criar a consciência do consumo entre os consumidores menos conscientes como aprofundar a prática entre os que já são mais conscientes.
“Nós acreditamos que a consciência no consumo só é possível se o consumidor conhecer os impactos de cada ato de consumo. É preciso que todos, além de ter informação, tenham a percepção de que o seu ato individual de consumo terá, efetivamente, um poder transformador sobre a sociedade e o ambiente. Nesse sentido, por meio da disseminação de informação, mobilizamos os consumidores para que, ao consumir, eles tenham a percepção do protagonismo que eles exercem nesse processo”.
Ainda segundo o levantamento da Fecomércio, em 2007, 27% dos brasileiros verificavam se os produtos adquiridos eram geneticamente modificados ou transgênicos. Em 2011, esse número caiu para 20%. Em relação ao desperdício, há cinco anos, 76% verificavam os armários e a geladeira antes de fazer compras e atualmente, esse percentual caiu para 72%.
Para o superintendente de Economia e Pesquisas da Fecomércio-RJ, João Carlos Gomes, “a construção de uma consciência verdadeiramente ecológica ainda se revela como um desafio ao país”.
Idosos mais conscientes que jovens
Em relação à idade dos entrevistados, os idosos têm maior preocupação quanto aos hábitos mais saudáveis para o meio ambiente: 91% dos brasileiros de terceira idade fecham a torneira ao escovar os dentes (apenas 81% dos jovens cultivam este hábito). A prática de separar o lixo para reciclagem também é maior: 54% contra 37%, respectivamente. A terceira idade também se preocupa mais com a renovação da vegetação: 41% dos idosos revelaram plantar árvores ou cuidar de jardins. Entre os jovens, 31% se ocupam desta forma.
Já na comparação entre os sexos, as mulheres mantêm hábitos mais ecológicos: 90% apagam a luz ao deixar um recinto, enquanto 86% dos homens lembram de “apertar o botão”. Ao escovar os dentes, 88% das mulheres fecham a torneira, contra 84% dos homens.
E entre as classes sociais, as diferenças também aparecem: 39% dos brasileiros das classes A e B afirmam consumir produtos com menor impacto ambiental, contra 25% e 19% das C e DE, respectivamente.
O levantamento foi realizado em 70 cidades, incluindo nove regiões metropolitanas do país.
(Instituto Akatu)

terça-feira, 5 de julho de 2011

O Código Florestal cria o caminho 'legal' para concluir a grilagem da terra'. Entrevista especial com Mauricio Torres




“Entendo que a pesquisa nas situações de conflito não pode se limitar ao modelo onde o pesquisador ocupa o papel de sujeito, como agente das ações de perguntar e registrar, e o grupo estudado se limita a ser objeto da pesquisa.” Assim Mauricio Torres assume sua posição sobre as pesquisas que desenvolve na Amazônia.  Em entrevista à IHU On-Line realizada por e-mail, Torres falou sobre os estudos que produz acerca dos conflitos em disputas territoriais que envolvem camponeses e povos da floresta em áreas da Amazônia brasileira.  Para ele, “os grandes projetos em curso na Amazônia continuam a conceber a floresta como um banco de recursos naturais, um estoque de matéria-prima”.
Mauricio Torres é professor de Geografia na Universidade de São Paulo.  É mestre em Geografia Humana pela mesma instituição.  Foi orientando do professor Ariovaldo Umbelino e, por acaso, como diz, “foi parar na Amazônia”.  Hoje, vive entre São Paulo e o Pará, onde realiza suas pesquisas.
Confira a entrevista.


IHU On-Line – Como é sua rotina de pesquisa em Santarém-PA e, especialmente, nas áreas florestais?
Mauricio Torres – Eu pesquiso sobre conflitos em disputas territoriais que envolvem camponeses e povos da floresta em áreas da Amazônia brasileira.  Gente que vive diante de formas de terror e violência absurdas.  Procuro mostrar de forma muito clara de que lado estou, pois o mais difícil é construir a indispensável relação de confiança com as populações da floresta.  Talvez, o principal a se dizer é que nisso não há nenhum assistencialismo, nenhuma bondade, muito menos aventura.  É trabalho.
Entendo que a pesquisa nas situações de conflito não pode se limitar ao modelo em que o pesquisador ocupa o papel de sujeito, como agente das ações de perguntar e registrar, e o grupo estudado se limita a ser objeto da pesquisa.  Procuro colocar-me também na posição de objeto, na medida em que posso servir de mídia para levar a demanda do grupo a outros planos de combatividade.  E isso inclui, muitas vezes, apenas dar visibilidade para o conflito.  Dar visibilidade política à população estudada.
Falo de um trabalho assumidamente parcial.  Ora, um cientista empenhado em desenvolver um novo tipo de serra para madeireiras selou um compromisso com um determinado grupo, com uma determinada classe.  O conhecimento daí gerado é político na medida em que se equaciona as relações de poder estabelecidas.  Sempre o conhecimento que geramos na academia tem uma apropriação política.  Portanto, o pesquisador deve ter claro quem vai se apropriar do conhecimento que ele está produzindo, sem nenhuma hipocrisia de higienismo científico.
IHU On-Line – Quais são os principais empreendimentos feitos nas áreas florestais brasileiras?  Dos empreendimentos iniciados em áreas florestais, quais mais afetam as populações que vivem nas florestas?
Mauricio Torres – A Amazônia parece viver um ressurgimento dos grandes projetos.  O roteiro se repete, infelizmente, muito fiel à megalomania dos projetos ufanistas da ditadura militar na década de 1970.
De modo geral, os grandes projetos em curso na Amazônia continuam a conceber a floresta como um banco de recursos naturais, um estoque de matéria-prima.  Qualquer empreendimento que se apoie nesta concepção é sempre danoso aos povos da floresta.  Isto porque, para os inúmeros grupos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, varjeiros, castanheiros etc., a mata assume muitas outras dimensões de valor além de um banco.
São vários os grandes empreendimentos que ameaçam a Amazônia e seus povos: agronegócio, madeireiras (com a Lei de Gestão de Florestas Públicas), hidrelétricas, mineradoras, projetos de grandes rodovias e hidrovias, etc. Em comum, todos eles têm o fato de reproduzirem o avanço do grande capital nacional e internacional sobre a floresta, numa concepção de “conquista”.  É muito importante ressaltar que este progressivo “domínio” vem sendo precedido e viabilizado por um aparato jurídico e político que, por um lado, remove obstáculos legais, por outro, cria normativas para regulamentar o saque.  Pensando em apenas três dos grandes projetos que ressurgem na Amazônia, podemos exemplificar como isso acontece.
Temos a mineração.  Os impactos ambientais e sociais dos grandes projetos mineradores são imensos e bastante conhecidos.  (Nunca é demais lembrar o exemplo da Serra do Navio, no Amapá.)  São sempre empreendimentos que demandam intensamente recursos e energia, para os quais a Amazônia é saqueada com o fim de, em um sistema colonial, abastecer os países industrializados de matéria-prima em um processo onde o principal beneficiado são as grandes mineradoras transnacionais.  E a situação ameaça ficar ainda muito pior.  A mineração em terras indígenas, hoje, não é permitida.  Porém, três projetos de lei (PLs 1610/96, 7099/06 e 5265/09) tentam regulamentar a atividade em parâmetros em que as mineradoras poderiam trabalhar até quando não houvesse a aquiescência da população indígena.
Há também o hidronegócio.  Como dito, os projetos mineradores são sempre muito eletrointensivos, ou seja, demandam uma quantidade enorme de energia e, também pelo cenário de celerada expansão da mineração, os megaprojetos hidrelétricos ressurgem atropelando toda e qualquer racionalidade, legalidade, direitos sociais e ambientais.  Os vergonhosos casos de barramentos de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, de Belo Monte, no Xingu e do complexo de cinco hidrelétricas no rio Tapajós são exemplos deste atropelo.
Belo Monte
Tomando-se o caso de Belo Monte como exemplo, as 11 ações movidas pelo Ministério Público Federal contra a obra ilustram o nível de ilegalidade do projeto.  Ainda assim, o governo federal distorce e flexibiliza as normas de licenciamento até liberar o que será um verdadeiro crime social e ambiental.  Neste caso, a legislação que rege a análise e emissão de licenças para este tipo de obras seria o obstáculo legal a ser removido.
Tapajós
No caso do rio Tapajós, o complexo de barramentos alagaria imensa porção de unidades de conservação e, desde já, o governo Dilma se empenha na redução dessas áreas protegidas.  Novamente, remove-se política e legalmente o que atrapalha, ao grande capital, o controle da área.  Note-se que, em uma destas unidades de conservação a serem reduzidas, o Parque Nacional da Amazônia, o Estado expulsou com muita violência e desrespeito, na década de 1970, um grande contingente de população tradicional da área, pois esta modalidade de UC veda a ocupação de famílias ribeirinhas.  Ou seja, a sociedade já pagou um alto custo para se ter este Parque e, agora, haverá que pagar novamente por não tê-lo.
Por fim, há o avanço do agronegócio na Amazônia, que foi, até então, bastante atrapalhado pela condição fundiária da região e pela legislação ambiental.  A falta de titulação das terras (em sua enorme maioria públicas) e os rigores do código florestal contribuíram muito para que mais florestas não fossem transformadas em soja e pecuária extensiva e, também, para que mais comunidades inteiras não fossem expropriadas para darem lugar a fazendas.  Não estou dizendo que isso não aconteceu.  Pelo contrário, aconteceu muito.  Digo que, com a flexibilização da legislação ambiental e com o Programa Terra Legal que diz promover a “regularização fundiária”, este processo tende a se acelerar muito.
O programa federal Terra Legal nasce com a promulgação da Medida Provisória 458/09, transformada na Lei Ordinária 11.952/09, e se anuncia como vindo para reconhecer o direito à terra dos camponeses na Amazônia.  Porém, os dados do próprio Incra mostram sem margem para dúvidas que o grileiro será o verdadeiro beneficiário deste programa, pois mais de 80% do território se concentrará nas mãos de menos de 15% dos que ocupam a terra.  Aqui, o grande capital remove um obstáculo para controlar a Amazônia, que é o Código Florestal, e cria um caminho “legal” para concluir a grilagem da terra.
IHU On-Line – Como você recebeu a notícia de que o governo pretende ampliar o número de hidrelétricas em áreas florestais como em Tapajós?  Quais os prós e contras desses empreendimentos?
Mauricio Torres – Trabalho há muitos anos com uma população ribeirinha do Tapajós que terá seu território submergido por estes barramentos.  Vejo a angústia e o terror com que o anúncio chegou a eles.  São comunidades tradicionais para quem o território é muito, mas muito mais do que mero lugar onde morar e plantar.  Eles têm a história de suas vidas ali.  Têm seus pais, avós, bisavós e filhos enterrados nesta localidade.
São profundos conhecedores do rio e da floresta, detentores de tecnologias impressionantes para o aproveitamento e manejo da floresta.  Porém, trata-se de um saber local, um saber que não se transporta para um local diferente para o qual eles sejam realocados.
Com os alagamentos, é como se, além de toda a materialidade sobre a qual apoiam sua identidade, eles fossem também expropriados de todo o conhecimento que adquiriram por toda uma vida.  Mais que isso, um conhecimento que herdaram de várias gerações e que, em muitos aspectos, norteia suas vidas.
Quanto ao impacto ambiental, além das imensas porções de florestas em unidades de conservação a serem alagadas, há que se pensar nos resultados de se transformar a dinâmica de um rio da dimensão do Tapajós na dinâmica de uma sucessão de lagos.  Nenhum rio pode suportar cinco barramentos.
Quem colheria os bônus desses empreendimentos serão as empreiteiras (que, aliás, terão bastante dinheiro para continuar a financiar campanhas eleitorais), as mineradoras transnacionais e os países de primeiro mundo, que poderão continuar a fechar suas fábricas de alumínio por não quererem pagar o imenso custo social e ambiental desta produção.
IHU On-Line – Como você vê a remarcação de áreas de preservação ambiental no Brasil para novos projetos de infraestrutura na região?  O que isso significa para a conservação da biodiversidade e preservação dos povos tradicionais?  Corre-se o risco de extinguir áreas que deveriam ser preservadas?
Mauricio Torres – Acredito que a remarcação dessas áreas concorre, conjuntamente com outras medidas planejadas para a Amazônia, no sentido de agravar o quadro que mencionei antes.
Faz parte da tática de remover obstáculos jurídicos, a redução de unidades de conservação, não só na área do rio Tapajós, como na Amazônia toda.  São muitos os projetos de lei que pleiteiam a redelimitação que reduz unidades de conservação, sempre em benefício de grileiros e madeireiros.
O que assusta no caso do rio Tapajós é o fato de se ensejar fazer tal redução por meio de Medida Provisória.  Neste caso, a pretensão da redução parte do próprio governo, contrariando frontalmente os pareceres técnicos dos gestores das unidades de conservação afetadas.  Independente de qualquer estudo ou racionalidade, o Estado já tem por certo que as unidades de conservação precisam ser reduzidas.  Tudo se pauta pelo fato de que elas “atrapalham” as pretensões do grande capital.
IHU On-Line – Em que consistiria, na sua avaliação, um desenvolvimento sustentável na Amazônia?
Mauricio Torres – Não consistiria.  Não consiste.  “Desenvolvimento sustentável” é o axioma criado para se legitimar tudo e qualquer coisa.  O adjetivo “sustentável” vai em tudo a que se quiser dar um ar legítimo: Belo Monte Sustentável, Juruti Sustentável (como chamam o projeto de mineração de bauxita da Alcoa) etc.
Desenvolvimento é um conceito vazio e bastante perigoso.  O que se entende por essa palavra, hoje, é a ideia vaga e perigosa que sempre acaba por ser traduzida por crescimento econômico.  E, pior, um crescimento que inerentemente gera pobreza.
Não existe nada tão abstrato e com um poder axiomático tão grande.  É sempre entendido como algo que leva do pior para o melhor.  E muitas vezes esse "melhor" é o sacrifício de parcelas imensas da população.
É absurda a forma como os grandes projetos se autoproclamam como vetores do desenvolvimento.  “Com Belo Monte, Altamira terá hospitais”, “com a Alcoa, a população de Juruti terá escolas”, “com a Vale, no sul do Pará, as unidades de conservação poderão ser monitoradas”.  O que se vende como “desenvolvimento” que chegaria com a instalação dos grandes empreendimentos nada mais é do que o acesso a direitos civis.  Direitos constitucionalmente previstos, tarefas do Estado, que deveriam ser garantidos independentemente de quaisquer projetos.  O discurso do “desenvolvimento” sedimenta a nociva ideia de que só por meio do “favor” se pode ter acesso àquilo que lhe é garantido por lei.  Reforça-se um cidadão de favor, em detrimento do cidadão de direito.
Porém, a resistência em Belo Monte, em Juruti, dos quilombolas de Alcântara contra as instalações da base espacial, dos povos do rio Tapajós e tantas outras, mostra a força de resistência dos pobres do campo.  Aliás, os indecentes números de assassinatos no campo evidenciam a guerra que travam contra a entrega da Amazônia ao grande capital que se dá sob a bandeira do “desenvolvimento sustentável”.  É nesta resistência que acredito e a ela volto meu trabalho.

Fonte: http://www.amazonia.org.br/