Passei por uma experiência na praia do Atalaia em Salinópolis/PA e como sempre a veia poética se manifestou. Fiz a poesia pensando também em contribuir com os pais que levam seus filhos para a praia ou rios, mostrando que numa fração de minutos eles podem se perder e mudar a vida de uma família para sempre.
O dia ensolarado,
as ondas do Atalaia como um manto de Nossa Senhora,
os redeiros, os artesãos, aos gritos e com muita saliva entoando seus hinos de marretagem,
a praia limpa, mas nem tanto, alguns monturos de lixo aqui e acolá,
diziam da consciência ecológica da população da praia,
a conversa ia e vinha, não era calmaria, mas era harmonia,
a areia fina,
os castelinhos das crianças,
os vendedores de pipa,
os carros com sons bem altos e mau educados,
na chegada a praia vislumbrava-se aquele tapete multicolorido de guarda sóis,
carangueijo toc-toc, pratiqueira e pescadinha na barraquinha,
de repente o susto,
cadê o menino?
cadê o menino?
o menino com sua prancha?
não, comigo não, conosco não!
isso não podia ser como tantos que já foram,
mas comigo não!
o que seria da mãe, e da irmã?
não! não! não!
já se passaram pelo menos 30 minutos e o menino sumiu,
todos tem que me ouvir: o menino sumiu!
Ei!! o menino sumiu, eu quero que todos ouçam meu ofegante pensamento,
vi a prancha amarela, a sunga azul, o corpo magro e moreno,
como um adesivo nos olhos,
bombeiro, cadê meu filho?!
guarda, socorro!
vendedor de bugiganga, me ajude!
todos que bricam como se nenhum drama estivesse acontecendo, olhem por mim,
olhem, o menino sumiu, eu estou desesperado!
vai para oeste que eu vou para leste, ou para norte, quem sabe p’ro sul,
a praia é a mesma mas meu filho sumiu,
meus olhos esbugalhados,
eles não param nas óbitas,
meu nó na garganta,
minha barriga que dói,
a panturrilha cansada,
por favor meu Deus, o menino sumiu!
me ajude!
derrepente, o olhar naquele corpinho,
a onda, não era do mar, que sobe pela espinha,
elétrica, esfriando a zero grau naquele sol causticante,
a prancha, a sunga, o tempo que já corria célere,
o grito delirante, a boca espumante, o coração saltitante,
achei o menino!!!
achei!!
o menino!!
descancei, gemi mudo, agradeci a Deus,
corri e o abracei,
já se iam uma hora e meia,
não quero imaginar que a perda poderia ser maior,
saí com ele orgulhoso e o entreguei a mãe choroso e desesperada,
o sol já se punha no horizonte,
já era mais silêncio na praia,
muitos buscavam os veículos e caminhavam preguiçosamente pelas areias,
ninguém se preocupava com tristezas,
nós ali, com nossos corações silenciosos,
com seus compassos normalizados,
caminhávamos lentamente e desligados da euforia ao redor,
olhando o menino,
(nós o tínhamos perdido, mas ele mesmo não se perdeu),
bem pertinho,
bricando, com a vida sem saber,
olhando-nos seguro,
e nós lhe amando,
sem perceber porque, dali em diante, um enorme tédio nos envolveu,
e no dia seguinte voltamos para casa,
e só o menino reclamou.
Muito bom o poema! Realmente a dor da perda so sente quem vive, ainda que seja por 1he30m. Não me vejo sem meu filhos, foram horas intermináveis.
ResponderExcluirMais não consegui entender tbm pq perdemos o pique tão rapido da praia.
Parabéns tu es um grande poeta, escritor e sabe trabalhar divinamente bem com as palavras.
A sensibilidade do poeta aflora quando ele passa por várias situações que podem ser agradáveis ou desagradáveis, não importa. As vezes, nos deparamos com situações vexatórias, mas procuramos decifrar em frações de segundos e isto faz muito bem, principalmente quando aquilo que se almeja é conseguido. Parabéns pela desenvoltura no poema e continue fazendo valer sua condição de poeta sensível.
ResponderExcluir