quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Capanema* 100 anos - Adeus Rio Garrafão

Depósito de detritos, amontoado de dejetos humanos, meio de cultura para as mais perigosas bactérias, monturo de lixo!!!

Não, não!! Não me refiro aqui a uma fossa, que apesar de ser tudo isso citado, encontra-se devidamente enterrada e muitas vezes inofensiva aos seres humanos.

Falo do saudoso Rio Garrafão, pequena e outrora bela drenagem natural que corta nossa cidade e vergonhosamente transformou-se em sinônimo de sujeira e vetor de doenças infecciosas.

Não é exclusividade de Capanema que em seus 100 anos avança como todo o mundo para a destruição do ambiente natural.

Desculpem a rudeza destas palavras, porém às vezes a franqueza mesmo que contundente pode despertar as consciências acomodadas no consumismo e na busca incessante das pseudo-riquezas materiais. Valores como preocupação com o futuro das próximas gerações são meros coadjuvantes diante do protagonismo do egoísmo que engole a humanidade e a deixa órfã de seu mais importante parceiro na vida, o Meio Ambiente.

Sem água não há vida! Tudo aquilo que cresce, respira, anda, nada ou voa na Terra precisa de água para viver. Os seres humanos são formados por aproximadamente 70% de água. Na nossa vida cotidiana, nós usamos cada vez mais água para as nossas necessidades habituais: cozinhar nossos alimentos, fazer nossa higiene pessoal, lavar nossa roupa e nossa louça. No nosso planeta, 97,4% da água é salgada (mares e oceanos), 2% da água é doce, mas está sob forma de gelo (polos e geleiras) e apenas 0,6% é de água doce líquida (águas subterrâneas, umidade, lagos e rios).

Um em cada quatro habitantes do planeta não tem acesso a água potável, o que equivale a 1,5 bilhão de pessoas. Não existem esgotos e estações de tratamento para 2,5 bilhões de seres humanos. As águas sujas (com excrementos, sabão, produtos de limpeza, resíduos industriais) são jogadas nos rios ou nos mares. As conseqüências são dramáticas: 250 milhões de pessoas ficam doentes por causa da água poluída e 10 milhões morrem por causa disso. (fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

O Rio Garrafão assim como todo rio me lembra sempre poesia, me faz feliz, mas ali onde trafego diariamente me faz chorar, suas águas são lágrimas escorrendo em faces enrugadas e tristes, nas beiradas dos fundos das casas invasoras. Seu leito é como a pele queimada de sol que os anos de sofrimento, na amargura da esperança destroçada, desfaz-se melancolicamente numa torrente escura e fétida.

Ouço o murmurar dos amantes do rio, crianças, jovens e adultos, e eu parafraseando Castro Alves... “Oh Deus onde estás que não me ouves?”, sei, no entanto que assim como o Pai deu sua resposta na abolição dos escravos, Ele também salvará nosso amado Garrafão.

Ainda há tempo!

Ouçamos o que diz o rio:

Salvem-me queridos e centenários habitantes de Capanema! Quero compartilhar minhas águas límpidas e cristalinas com seus descendentes! Darei tudo de mim para louvar o esforço que fizerem! Abraçarei suas crianças com o líquido mais importante da vida! As areias que sedimentam meu leito servirão de tapete para seus pés, não desistirei jamais de saciar a sede dos seus animais e serei incansável na decoração de minhas margens, onde cultivarei as mais belas plantas. Gostaria muito de comemorar junto com essa terra querida meus 200 anos.

* Capanema - Cidade do Nordeste paraense que completa em 05 de novembro de 2010, 100 anos de fundação.

Por Nilson Mesquita

Um comentário:

  1. Pôxa Amigo! Que situação lamentável heim? Aqui em Bragança conheço um que também está morrendo.

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