sábado, 23 de fevereiro de 2013

Olhar verde saudade


Já vivi com os ribeirinhos dos rios da Amazônia
e eles sabem viver em paz com a natureza.
No Rio Juruá vi luzes de cidade sobre o espelho d'água,
eram os jacarés que olhavam o luar,
vi os botos, tucuxi e cor de rosa,

correndo atrás de peixe ou brincando de pular,

vi sucurijú nas praias do Rio Jatapú,
enroladas na beira, olhando preguiçosas o remanso.
Vi o caboclo, o pescador, na corredeira com sua tarrafa,
observei quando sentou, fez fogo e piracaia, na praia do Rio Uatumã.
Andei de canoa no Rio Tapajós,
brinquei e velejei na praia de Alter do Chão,
onde o céu se encontra com a vida na terra para os anjos brincar.
Vi quando o barranco mudou de lugar,
na vila do Arapemã,
e o povo quilombola ficou sobre as águas,
na enchente grande do Rio Amazonas.
A tristeza pairou nas palafitas,
a água barrenta trouxe o capinzal e a pirambóia,
mas nem assim o homem se desprendeu do lugar.
No Rio Uruará ainda pude ver o aracú naquelas águas cristalinas,
o mergulhador no fundo vendo quase tudo,
e as toras rolando sobre as balsas empobrecendo a mata.
Vi quando o povo se rebelou,
A madeira que ficou,
A floresta que chorou,
Mas enfim, o que restou?
Subi o Igarapé Arraia e vi calcário, chert e arenito,
olhei as pirararas na borda do rio com aquela boca grande, gemendo tanto...
o pirarucu no fundo da canoa, esgotado pela luta com a zagaia e o arpão.
Agora já não há rio, não há mais o peixe grande, nem as imensas piraras,
a madeira está envernizada e pintada,
o povo ficou na beira do rio sem suas matas,
o menino chora a falta de canoa pra remar,
o que será de mim,
o que será de minha saudade,
não poderei retornar jamais,
pois sei que minha bela vida de outrora,
já se dissipou e encontra-se apenas nos escaninhos do meu ser.



Caboco Nirso

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