O som que esmaga a poesia da natureza
Hoje fui dar uma volta em Peixe Boi, a tarde estava bem suave, o sol já iniciava seu sempre belíssimo ritual multicolorido do final do dia, trafegávamos suavemente pela estradinha. Pedi que fôssemos bem devagar, curtindo a estrada, a paisagem, os igarapés, em fim, era meu momento de romantismo, que por sinal tem sido raro nos últimos tempos, queria portanto aproveitar ao máximo aquele fim de tarde. Na cidade de Peixe Boi soubemos que havia um lugar chamado Urubuapara, que disseram ser muito bonito. Idealizei imediatamente o lugar, pensei assim, um igarapé sobre as árvores, redes estendidas entre os troncos, crianças brincando nas águas cristalinas, poderíamos inclusive ouvir suas alegres risadas. Entramos por um ramal carroçável, foram uns cinco minutos até chegar no balneário. Fiquei impressionado com a beleza natural do lugar, era mais bonito que minhas imagens mentais. Normalmente isso acontece comigo, a natureza sempre mostra-se mais bonita e surpreendente que meus pensamentos. Estávamos com o carro fechado, com os vidros levantados e com o ar condicionado ligado. Fiquei ansioso para sair e curtir aquele lugar, me pareceu bem interessante, mas me decepcionei logo que sai do veículo, pois nos três bares às margens do igarapé havia uma “música” de péssima qualidade e numa altura que deixava os ouvidos totalmente irritados e destrambelhados. Perdi imediatamente da vista a paisagem que me cativara desde que cheguei, fiz um esforço imenso para apreciar o ambiente, meu filho entrou na água e brincou alegremente, mas o som era tão ruim e ensurdecedor que não havia mais espaço para apreciar nada, a beleza da natureza sucumbiu diante da horrível música e da altura desequilibrante do som. Me deu vontade de sair de lá imediatamente e fiquei pensando como aquelas pessoas conseguiam curtir aquele ambiente se isolando naquela ensurdecedora e horrível música. Não existe mais poesia naquele espaço natural, nesses momentos, acredito, nada, nenhum espaço sublime da natureza é notado, as vozes se calam, os diálogos não se estabelecem, as relações apodrecem.
Voltamos pela mesma estradinha para Capanema e fiquei pensando que um outro dia voltaria para apreciar aquele lugar sem aquela poluição sonora, acho que seria mais justo para mim e para a natureza, pois ela não merece não ser apreciada e saudada como mãe de todas belezas e emissora da paz em nossas vidas. O sol ia se pondo e a estrada escurecendo em uma penumbra leve, a decepção de antes agora já não mais existia, pois a poesia da natureza voltara, o som que ouvíamos quando paramos o carro às margens da rodovia era das folhas das árvores que balançavam, os pássaros com seus cantares, o barulho das correntes nos estreitos igarapés que cortam a estrada, o som das criações nas fazendas e ainda por cima podíamos nos ouvir, conversar e viver como parte integrante da natureza, não para massacrá-la com nossas tecnologias mas para compartilharmos juntos das benesses do mesmo planeta. A paz tinha voltado e assim, calmos e tranquilos retornamos para o lar.
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