Marina Silva teve 20% dos votos no Brasil. Isso significa que 20 milhões de brasileiros querem, e demonstraram isso nas urnas, que a sustentabilidade não seja mais um tema de oportunidade. Desejam que isso realmente seja incorporado a políticas públicas e de governo. Mais, estes eleitores deixaram uma mensagem clara para os dois candidatos que vão ao segundo turno: é preciso discutir o Brasil de forma mais consistente e não na base do generalismo. Todas as promessas são sobre educação, saúde, segurança etc. Temas sobre os quais há certezas. Ou seja, quem em sã consciência é contra agua encanada e esgoto tratado? Os eleitores de Marina, que vão decidir esta eleição, querem saber como será o desenvolvimento do Brasil nos próximos quatro anos. Que modelo de país o futuro governo quer e vai entregar. Uma discussão que estava descartada até este momento e que será o que realmente importa.
Bom, mas o processo eleitoral teve outras surpresas, principalmente em relação à disputa pelas duas vagas ao Senado em São Paulo. Aluízio Nunes, do PSDB, era quanse uma “carta fora do baralho” pelos dados dos institutos de pesquisa. Liderou a eleição. Ricardo Young, do PV, nunca era apontado com mais do que 2% das intenções de votos. Chegou a 4.117.634 votos, o que significa 11,20% dos votos dos paulistas. Vale perguntar como são feitas estas pesquisas, que deturpam resultados e atrapalham as campanhas mais do que bocas de urna e outras práticas que o Tribunal Eleitoral já pune como crimes. A divulgação de pesquisas erradas, que se afirmam “científicas” e com margens de erro de dois pontos para mais ou para menos influi na decisão de muitos eleitores. No entanto, de 2% para 11% não é exatamente uma “margem de erro”, mas sim incompetência na melhor das hipóteses, e má fé criminosa na pior.
O que vamos assistir agora são explicações mal ajambradas de porque se errou tanto e pedidos de desculpas aos eleitores, como se o estrago não tivesse nenhuma consequência. Em uma campanha política a possibilidade de vitória tem muitos reflexos na ação e na captação de recursos. Um candidato com 2% dos votos não estimula muitos doadores a apoiarem sua campanha. Um candidato que, no entanto, mostra sua capacidade, ou seu cacife eleitoral, pode conseguir mais apoios e, com isso, lutar para conquistar os votos que ainda necessita. Ricardo Young ultrapassou 4 milhões de votos, e poderia ter ido mais longe se tivesse recursos. Sua campanha se pautou pela austeridade e pela qualidade de suas propostas. Não teve os recursos dos quais dispuseram a maioria de seus adversários, mas mostrou que a sociedade é capaz de compreender propostas elaboradas de políticas públicas, apesar da incapacidade de diversos meios de comunicação e jornalistas em acreditar nisso.
Dilma e Serra terão de beber nas propostas de Marina, Ricardo e outros candidatos verdes se quiserem os votos destes eleitores. Não são os mesmos que votaram em Tiririca, não podem ser conquistados com promessas vagas e querem saber não apenas o que os candidatos vão fazer depois de eleitos. Principalmente querem saber COMO vão fazer. Este segundo turno fará bem ao Brasil. A política terá de ser feita de forma diferente, dialogada, negociada em termos de políticas públicas e não nos tradicionais acordos de bastidores e conchavos.
Para Marina Silva, a sustentabilidade não é mais assunto de guetos e as urnas provaram isso. E sustentabilidade pressupõe ética, transparência, governança, equilíbrio social, ambienta e econômico, além de um dos mais importantes valores dos ambientalistas, o princípio da precaução frente a arrogância do determinismo tecnicista.
Por Dal Marcondes, da Envolverde
Seleção Texto Nilson Mesquita
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