domingo, 5 de junho de 2011

Mais dois extrativistas são assassinados


Três dias após a morte de José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, ocorrido na terça-feira (24), mais dois extrativistas foram assassinados. Na manhã de sexta-feira (27) o agricultor Adelino Ramos, de 56 anos, foi morto a tiros em Vista Alegre do Abunã, um distrito de Porto Velho, em Rondônia. Os disparos foram dados por um motociclista. No sábado, o corpo do também agricultor Eremilton Pereira dos Santos, de 25 anos, foi encontrado por uma equipe do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Nova Ipixuna, no Pará. Ele morava no assentamento Praia Alta Piranheira, o mesmo de Zé Cláudio e Maria.

No caso de Eremilton, a Polícia Civil do Pará descartou a relação da morte dele com a do casal. José Humberto de Melo, da delegacia de Conflitos Agrários de Marabá e responsável pela investigação, teria dito ao portal de notícias G1 que este homicídio foi uma "infeliz coindidência". O crime poderia estar relacionado ao tráfico de drogas. No entanto, as investigações que motivaram o assassinato ainda não chegaram a uma conclusão. O mesmo não se pode dizer de Adelino. Assim como o casal morto a tiros, ele também incomodava madeireiros da região onde viva, no Amazonas, por defender a floresta em pé em nome do extrativismo.

A Secretaria-Geral da Presidência e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República informaram em nota pública que já foram feitos contatos com o governador de Rondônia e a Polícia Federal para que o crime seja prontamente investigado. Adelino era presidente do Movimento Camponeses Corumbiara e da Associação dos Camponeses do Amazonas e um remanescente do massacre de Corumbiara, ocorrido em 9 de agosto de 1995, que resultou na morte de 13 pessoas.

"O assassinato de Adelino Ramos merece o nosso total repúdio e indignação. Há três dias o Brasil se chocou com a execução de duas lideranças em circunstâncias semelhantes, no Pará. Hoje, mais uma morte provavelmente provocada pela perseguição aos movimentos sociais. Essas práticas não podem ser rotina em nosso país e precisam de um basta imediato", afirma a note oficial da Secretaria.

Por pouco

A Comissão Pastoral da Terra denunciou hoje, em seu site, a tentativa de assassinato de Almirandi Pereira, sindicalista e vice-presidente da Associação Quilombola do Charco, de São Vicente Ferrer (MA), no mesmo dia em que Adelino. Três tiros foram disparados contra sua casa, mas ele não foi atingido.

Protesto

Um protesto com mais de 5 mil pessoas marcou o enterro do casal em Marabá, no Pará. Militantes de organizações da sociedade civil local bloquearam uma ponte sobre o Rio Itacaiúnas e uma ferrovia. Como afirma a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, a morte de extrativistas que “incomodam” não pode se tornar uma prática. “O governo federal tem que atuar de modo muito incisivo e claro na região para demonstrar que não vai deixar esses crimes passarem impunemente. O governo já está atrasado e deveria estar presente por meio de autoridades de alto escalão na região desde a semana passada, para sinalizar de modo muito evidente a prioridade dada aos casos“ afirma Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental.

Saiba mais

Nota Pública da Secretaria Geral e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
Morre Zé Cláudio, símbolo de luta pela castanheira, por Karina Miotto
Lista de ameaçados de morte, 2010, Comissão Pastoral da Terra

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