Tem
uma historinha que acho de uma singeleza e de uma profundidade tão grande, que
sua simplicidade até passa despercebida.
Um velho pedreiro de nome Zé, ao
sair do trabalho, totalmente esgotado por uma jornada daquelas de arrebentar,
caminhava tristemente na direção de sua velha casa de palha. Muito pobre, o Zé,
um homem de seus 45 anos que mais pareciam 60, passava sempre pela igreja,
entrava silenciosamente, sentava em um banco qualquer e com um respeito
emocionante olhava o crucifixo e dizia simplesmente:
-
Jesus, eu sou o Zé e vim aqui te ver!
Ficava
ali sentado, descansando e ao mesmo tempo pensando na vida. Saía dali feliz e
com a certeza de que tinha se comunicado com o Mestre. Não sabia orar de forma
tão bonita como tantas pessoas que frequentavam a missa e escolhia aquele
momento, por se sentir envergonhado, pois analfabeto que era só sabia dizer
aquela frase para falar com Jesus. Sentia-se assim, pequeno, mas dizia aquelas
palavras com tanta força, com tanta compenetração, que saia da igreja como se
nem tivesse trabalhado tanto. Dormia feliz.
Um
dia o Zé adoeceu e foi parar no hospital, e como não tinha ninguém, ficava ali
deitado esperando alguém que viesse lhe visitar, mas nada, não aparecia
ninguém. Muito triste com sua solidão parecia definhar a cada dia, mas nunca
lhe faltava esperança, era um homem bom e aguardava que algo acontecesse, não
queria acabar seus dias no mundo, sozinho.
Certo
dia quando acordou, sentiu que alguém sentava em uma cadeira que ele sempre
deixava vazia ao lado da cama, estava virado para o outro lado e a expectativa
era tão grande com aquela visita que não ousava se mexer, quem seria? Ficou
ali, aguardando os acontecimentos. De repente, uma voz suave, ao mesmo tempo
doce, terna e firme, se pronunciou:
- Zé?
Fez-se
silêncio, passaram-se alguns segundos e novamente,
-
Zé?
O
coração detonou em batidas fortes que mais pareciam batuque de terreiro. Então
foi quando o visitante terminou a frase:
-
Zé, eu sou Jesus e vim aqui te ver!
Não
sei o que aconteceu com o Zé, sei que esse homem é um ser feliz e é a expressão
do que se chama religiosidade. É notável como uma frase tão simplória pode
conter tanta profundidade fazendo a alma transbordar em emoções indescritíveis.
Deus está ali, não há necessidade de templos, de dogmas, de sacerdotes, de
rituais, de belezas materiais, tudo está contido na manifestação nobre daquele homem
simples do mundo. O amor, a humildade, a paz, a sabedoria profunda, faz com que
ele possa pousar todos os dias sua cabeça sobre o travesseiro e dormir com a
consciência tranquila.
Que
importância tem que ele seja católico, evangélico, umbandista, espírita,
islâmico ou budista?
Há
mais amor em muitos ateus, do que em certos religiosos que aclamam Deus como se
fosse propaganda de remédios.
Há
mais espiritualidade no religioso que não cumpre as regras da igreja e que
raramente vai ao templo, mas que participa voluntariamente de programas junto a
comunidades em situação de risco social, que perdoa e que é indulgente com as
imperfeições alheias.
E
a religião? O que é mesmo? Peço que tire suas conclusões.
Pense
no Zé!